Startups de tecnologia impulsionam aquecimento do mercado de M&As

startups de tecnologia impulsionam aquecimento do mercado de m&as

O ecossistema de startups de tecnologia no Brasil atravessa um período de forte consolidação. Dados do relatório M&A Deals Report 2025 H1, produzido pela Questum e divulgados pelo portal Fusões & Aquisições, apontam que as operações de fusões e aquisições no setor cresceram 71,1% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2024. O volume já representa mais de 70% de todas as transações realizadas no ano passado, sinalizando um apetite renovado de investidores mesmo em um ambiente de juros elevados.

Esse movimento cria terreno favorável para gestoras de venture capital como a KPTL, que anunciou que 2025 seria um “ano de colheita”. A gestora, que tem quase duas décadas de atuação, planeja até dez saídas de seu portfólio ao longo do ano. Até setembro, quatro desinvestimentos já haviam sido concretizados — entre eles, a venda da startup industrial CHP Brasil para o Grupo WLM, distribuidor da Scania.

20 startups prontas para venda

Em entrevista à Bloomberg Línea, Renato Ramalho, CEO da KPTL, afirmou que cerca de 20 empresas da carteira estão maduras o suficiente para negociação. Para o executivo, a evolução da governança e da profissionalização no setor tornou as startups mais atrativas a potenciais compradores. “O cenário é muito melhor do que no passado: as companhias estão mais maduras, bem governadas e, por isso, mais vendáveis”, disse.

Ramalho estima que mais duas ou três saídas devem ser concluídas até dezembro. A estratégia, segundo ele, é manter equilíbrio entre novos aportes e desinvestimentos, evitando o acúmulo de ativos. Em 2023, a KPTL contava com 55 startups investidas; em 2024, o número chegou a 70, e hoje o portfólio soma 69.

Startups de tecnologia na linha de frente

O setor de tecnologia tem sido o principal motor desse aquecimento. Segundo o portal Fusões & Aquisições, além de fintechs, que superaram pela primeira vez empresas de ERP em número de transações, áreas como inteligência artificial, cibersegurança e soluções digitais corporativas concentram grande parte das operações. Esses segmentos são considerados estratégicos para empresas que buscam incorporar rapidamente inovação a seus modelos de negócio.

“O investidor que tem capital disponível percebe que, se esperar a liquidez voltar, os preços dos ativos sobem. Então, ele antecipa compras agora”, explica Ramalho, em declaração ao portal. A lógica é aproveitar a atual janela de mercado para adquirir startups tecnológicas a preços mais competitivos, mesmo com a taxa de juros em torno de 15%.

Mudança cultural no empreendedorismo

Outro aspecto relevante apontado por analistas é a mudança de mentalidade dos fundadores de startups. Segundo Ramalho, já não há a mesma resistência em discutir o momento de venda da empresa. “O empreendedor entende que, ao receber investimento, em algum momento vai haver uma saída. Claro que pode haver negociação sobre esperar o melhor momento, mas não existe mais aquela resistência que havia anos atrás”, afirma.

Essa postura mais pragmática tem favorecido a consolidação do setor e atraído novos compradores — desde corporações consolidadas até players que antes não tinham histórico de aquisições.

Novas fronteiras: tecnologia e bioeconomia

Embora o foco da KPTL permaneça em setores como agronegócio, saúde, energia e Internet das Coisas (IoT), a gestora também mira oportunidades em biotecnologia e soluções ambientais. Em julho, realizou o Bioeconomy Amazon Summit 2025, em Manaus, onde prospectou startups para o fundo Amazonia Regenerate Accelerator and Investment Fund, estruturado em parceria com o BID Lab, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O fundo deve investir até US$ 30 milhões em iniciativas ligadas à bioeconomia na região amazônica.

Para Ramalho, a região ainda é jovem em termos de ecossistema, mas altamente promissora. “Se eu vou para o Norte, vejo coisas que só existem no Norte. Há biotecnologia nascendo de moléculas e frutas locais, algo naturalmente inovador. Isso brilha os olhos”, declarou em entrevista.

Perspectiva – O cenário reforça que o mercado brasileiro de startups de tecnologia entrou em uma fase de maior maturidade e consolidação. As operações de M&A deixam de ser tabu e passam a ser vistas como parte natural do ciclo de crescimento das empresas.

Texto: Redação TI Rio

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