Samsung muda o foco para software e serviços

A Samsung Electronics Co. alcançou uma posição dominante no setor de tecnologia ao desenvolver seu hardware e criar um conjunto completo de smartphones e televisores que hoje vendem mais que os de todos os concorrentes globais.

Mas para se manter no topo e diferenciar seus produtos daqueles de concorrentes chineses cada vez mais agressivos, a Samsung terá que depender mais de software e serviços para impulsionar vendas e lucros. Parte do esforço para conseguir essa mudança está sendo feito no Vale do Silício, onde a Samsung está desenvolvendo o seu próprio software e formando parcerias com desenvolvedores terceirizados.

Há dois anos, a empresa contratou David Eun, um veterano do Google Inc. e da Time Warner Inc. formado em Harvard, para ajudar a aumentar o foco da empresa em novatas de tecnologia através de investimentos de risco, parcerias, aquisições e uma encubadora.

O The Wall Street Journal conversou recentemente com Eun, vice-presidente executivo da Samsung Electronics e chefe do Centro de Inovação Aberta da empresa. Seguem trechos editados da entrevista.

WSJ: O que a Samsung traz em termos de software que outras empresas do Vale do Silício não podem trazer?

Eun: O que temos é uma incrível rede de parceiros e consumidores no mundo, logo há uma abundância de conhecimento e de escala no trabalho aqui. Acho que às vezes as pessoas esquecem isso.

O último dispositivo móvel principal que vendemos, nós vendemos em mais de 200 países com 350 operadoras. Estamos realmente trabalhando junto a eles para entender como as preferências do consumidor estão evoluindo, como os mercados estão evoluindo e o que outras empresas de porte estão fazendo lá, não apenas no espaço de software, mas também no espaço de hardware e tecnologia em geral.

Software é uma relação de mão dupla, então conforme consumidores usam os seus serviços e usam seus dispositivos, você ganha conhecimento sobre o uso, sobre o que gostam e o que não gostam e isso ajuda você a ser mais inteligente na maneira de desenvolver o produto.

Essa escala, se usada corretamente, ajuda você a ser mais inteligente e a adquirir mais informações, o que ajuda a acelerar a evolução dos produtos.

WSJ: Você acredita que a escala da Samsung é atrativo suficiente para convencer desenvolvedores de software a trabalhar com a empresa?

Eun: Eles entendem isso. Acho que eles valorizam a escala pura e simples. Acho que valorizam nossa intenção de ser um bom parceiro.

Não importa o tamanho de sua visão. Se seus produtos não dão fundamento àquilo que você está falando, fica mais difícil operar dentro dessa visão. Quando eu digo a eles que vendemos duas TVs por segundo, isso tem ressonância, porque eles também têm TVs Samsung na sala de estar. A escala e nossos produtos têm um apelo para eles.

WSJ: Quais são os planos de longo prazo da Samsung para software, em termos de ganhar dinheiro e desenvolver serviços?

Eun: Naturalmente, eles vão ter a ver com a melhoria e o aumento das vendas de hardware. Não acho que isso seja um mistério tão grande.

Se você oferece uma TV verdadeiramente inteligente e um concorrente não tem uma TV inteligente, esse é um grande ponto de diferenciação quando o consumidor está prestes a comprar uma TV. Isso é muito básico. Então, no fundo, queremos ter certeza de que o software e os serviços apoiem o nosso negócio principal de hardware e que continuemos no primeiro lugar. É possível dizer que vendemos mais telas que qualquer outra empresa no mundo e, se você entender que essas telas estão cada vez mais conectadas à internet, há uma oportunidade imensa de conectar cada vez mais essas telas entre si. E no dia em que fizermos isso, teremos uma das maiores plataformas do mundo para a distribuição de conteúdos e serviços – e estou falando de tudo, de aplicativos à publicidade.

Neste momento, estamos tendo discussões abertas e interessantes com todas as empresas importantes de software e serviços do mundo e não apenas com as grandes e estabelecidas, mas também com novatas de que você ainda nem ouviu falar.

WSJ: Como o Centro de Inovação Aberta se encaixa nesse esforço?

Eun: Meu grupo está voltado exclusivamente ao trabalho com “startups” [empresas novatas] porque, principalmente em software e serviços ao consumidor, a inovação tende historicamente a vir de empresas pequenas e grupos pequenos de pessoas. Dessa maneira, conseguimos cobrir tudo, desde os US$ 11 bilhões que gastamos em pesquisa e desenvolvimento até ter três caras num canto trabalhando juntos numa coisa revolucionária. Estamos apenas tentando cobrir tudo isso.

WSJ: O que vem à sua cabeça quando alguém diz que a Samsung não entende de software?

Eun: Não acho que muitas pessoas entendem. Essas pessoas estão muito focadas numa visão estreita das questões, num escopo limitado de tempo, num conjunto restrito de coisas. À medida que continuamos a melhorar a experiência de nossos consumidores e entender que é hardware mais software, estamos na verdade criando uma base para essa enorme plataforma de distribuição da qual estou falando. Mas as pessoas não conseguem ver isso.

Se você parar e olhar para o setor de telefonia móvel sete anos atrás, não havia iPhone ou Galaxy. Era tudo Nokia, Motorola e BlackBerry. E há menos de uma década, em TVs, era Sony, Sony, Sony. Essas são grandes empresas e grandes marcas, o que quer dizer que esses espaços evoluíram muito rapidamente. Ainda é cedo demais para sair tirando conclusões sobre como esse jogo vai acabar.

WSJ: As pessoas olham para inovações como telefones curvos e TVs e ficam imaginando se chegamos ao fim de onde o hardware pode nos levar, em termos de inovação e lucros. Você concorda?

Eun: Não sei se concordaria com essa afirmação. Somos uma empresa que investe mais de 5% em P&D e vamos continuar a ampliar as possibilidades do que você pode obter e fazer com hardware.

Entendo o que você quer dizer: parece que há muito mais oportunidade de inovação em software que em hardware. Essa é uma observação com a qual não concordo totalmente, mas concordo que há muita oportunidade para inovar em software.

Site: The Wall Street Journal
Data: 20/02/2014
Hora: 12h03
Seção: Artigo
Autor: Jonathan Cheng
Link: http://online.wsj.com/article/SB10001424052702304275304579393413195471926.html?dsk=y

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