
De acordo com matéria publicada no Los Angeles Times, o Vale do Silício foi palco, nos dias 11 e 12 de dezembro, de uma demonstração concreta de como a robótica humanoide começa a sair do campo das promessas para ocupar espaços reais da economia. Durante o Humanoids Summit, realizado no Computer History Museum, em Mountain View, Califórnia, cerca de 2.000 investidores, empreendedores e especialistas acompanharam robôs que dobram roupas, interagem com pessoas e executam tarefas industriais, enquanto o capital de risco acompanha o movimento com cifras bilionárias.
O evento reuniu empresas dos Estados Unidos, China, Japão e outros países, apresentando robôs com aparência humana e movimentos inspirados no corpo humano. Diferentemente dos robôs industriais tradicionais, os humanoides buscam operar em ambientes pensados para pessoas, interagindo diretamente com humanos.
Segundo dados da PitchBook citados pelo Los Angeles Times, o investimento de capital de risco em robótica humanoide nos Estados Unidos saltou de US$ 42,6 milhões em 2020 para quase US$ 2,8 bilhões em 2025. A Califórnia concentrou a maior fatia desse volume, com aproximadamente US$ 1,6 bilhão.
Do espetáculo à aplicação prática
Entre as demonstrações mais comentadas, dois robôs dobravam camisetas com precisão, enquanto outros gesticulavam, “formavam corações” com as mãos mecânicas ou simulavam interações educativas. A proposta, segundo os desenvolvedores, é aliviar humanos de tarefas repetitivas, perigosas ou exaustivas.
A Weave Robotics, startup fundada por ex-engenheiros da Apple, já instalou robôs dobradores de roupas em lavanderias de São Francisco. Um deles opera na Sea Breeze Cleaners, onde a cena inusitada de um robô dobrando camisas atrás de uma vitrine virou atração para curiosos. Apesar de mais lento que humanos, o robô executa a tarefa com constância e baixo custo operacional. O investimento inicial, segundo a empresa, fica abaixo de US$ 10 mil.
Bilhões apostados no futuro dos humanoides
O interesse dos investidores reflete apostas ambiciosas. A Figure, empresa de robótica com sede em San Jose, já ultrapassou US$ 1 bilhão em financiamento e alcançou avaliação de US$ 39 bilhões, desenvolvendo robôs capazes de realizar tarefas domésticas como lavar louça e roupas.
Projeções da Morgan Stanley Research indicam que o mercado de robôs humanoides pode alcançar US$ 5 trilhões até 2050, com mais de 1 bilhão de unidades em uso globalmente. O custo médio de um robô humanoide, hoje estimado em cerca de US$ 200 mil em países de alta renda, pode cair para US$ 50 mil nas próximas décadas, impulsionado por escala e avanço tecnológico.
Ceticismo, empregos e limites técnicos
Apesar do entusiasmo, especialistas alertam para o excesso de expectativas. Analistas citados pelo Los Angeles Times afirmam que muitos robôs ainda têm funcionalidades limitadas, baixa autonomia e dependem de programação prévia ou controle humano. No evento, poucos modelos operavam de forma totalmente autônoma.
Também surgem preocupações sobre substituição de empregos e privacidade. Desenvolvedores, no entanto, defendem que os robôs devem complementar o trabalho humano, assumindo tarefas monótonas ou de risco, especialmente na indústria, logística e serviços de limpeza.
A Agility Robotics, por exemplo, já utiliza seu robô Digit em armazéns e centros logísticos, realizando tarefas repetitivas e levantamento de cargas de até 16 quilos. Empresas como a Amazon estão entre as que testam esse tipo de solução.
Um começo que aponta tendências
Para os organizadores do Humanoids Summit, o evento mostrou que a robótica humanoide ainda está em estágio inicial, mas avança rapidamente. Startups focadas em componentes, como mãos robóticas sensíveis ao toque, sensores e próteses, indicam que a integração entre humanos e máquinas deve se tornar cada vez mais comum.
Como resumiu um dos participantes ao Los Angeles Times, os robôs talvez não precisem cozinhar ou criar arte, mas dobrar roupas, carregar caixas e executar tarefas repetitivas já parece um futuro suficientemente próximo, e altamente financiado.
Texto: Redação TI Rio