Para pesquisador, iOS e queda do PC são ameaças à inovação

Um membro respeitado da indústria de computação acenou com uma bandeira amarela nesta semana sobre o “túmulo” dos computadores pessoais, e com boa razão. O codiretor do Berkman Center for Internet and Society da Universidade de Harvard, Jonathan Zittrain, alertou sobre a ameaça para a inovação e a liberdade que o desaparecimento dos PCs pode ter em nossas vidas, em um ensaio publicado na revista Technology Review do Massachussets Institute of Technology (MIT).

Ele argumentou que a importância cada vez menor do PC está criando uma mudança no equilíbrio de forças no mundo digital. “Estamos vendo uma mudança de poder sem precedentes dos usuários finais e criadores de software de um lado, até as fabricantes de sistemas no outro”, escreveu. “Isso é um pouco para o melhor, e muito para o pior.”

Alguns de nós, incluindo eu, podem pensar que a mudança de poder é atraente. O que há de errado em dizer “isso apenas funciona” em vez de “isso funcionou dessa vez”? A resposta de Zittrain para essa pergunta deve preocupar qualquer pessoa buscando conforto no Big Brothers emergindo dos PCs.

As pessoas familiarizadas com o trabalho de Zittrain vão reconhecer seu principal culpado na destruição do paradigma dos PCs: o ecossistema iOS iniciado com o iPhone. Em seu livro “The Future of the Internet and How to Stop It” (gratuito para download), ele culpa o smartphone da Apple por contribuir com a morte da web e explica a abordagem atraente da Apple para a computação.

“Ficamos cansados não do que é produzido pelo computador produtivo, mas sim do inesperado que veio junto”, escreve no livro. “Vírus, spam, roubo de identidade, crashes: tudo isso foi consequência de certa liberdade embutida no computador generativo. À medida que esses problemas ficam piores, a promessa de segurança vira razão o suficiente para muitos desistirem dessa liberdade.”

Apesar de o modelo “muros fechados” do iPhone ter resolvido alguns dos aspectos irritantes do ambiente de computação, ele também criou problemas ainda mais sérios. No entanto, como essas questões não afetam as pessoas tão diretamente quanto um computador travando ou uma caixa de e-mails cheia de spam, elas acabam sendo ignoradas por uma população constantemente “cortejada” pelo próximo produto incrível do mercado.

Por exemplo, como os aplicativos precisam ser aprovados pela Apple antes de serem vendidos na App Store, a empresa escolheu ser juíza de qual conteúdo é bom ou ruim. Esse modelo pode ser tolerável se fosse limitado a uma única plataforma ou companhia, mas está começando a ser imitado por outras empresas, mais notavelmente a Microsoft.

“O fato de que os apps precisam sempre de aprovação mascara o quão extraordinária é a situação: as companhias de tecnologia estão no negócio de aprovação, uma a uma, o texto, as imagens, e os sons que são permitidos encontrar e experimentar em nossos portais mais comuns do mundo conectado”, explicou Zittrain. “O motivo?”, continuou, “nós poderíamos querer que o mundo das ideias funcionasse assim, e por que pensaríamos que a simples existência de companhias de tecnologia rivais – todas com poderes de censura – resolveria o problema?”.

Pior ainda, ao reduzir as possibilidades que um conteúdo tem de chegar às pessoas, afirma Zittrain, torna-se mais fácil controlar o fluxo de informações. Qual governo não ia preferir aplicar pressão a alguns pontos estratégicos de informações do que correr atrás de grandes quantidades de fontes pelas quais o conteúdo é distribuído atualmente? “De repente, o conteúdo considerado repreensível pode desaparecer ao se fazer pressão sobre uma companhia intermediária.”

“Se nos permitirmos ficar satisfeitos com os ‘muros fechados’, vamos perder as inovações que são repreendidas por essa política, e vamos nos sujeitar a censura de código e conteúdo que antes era impossível”, completou. “Nós precisamos de alguns nerds irados.”

É impossível não captar uma ironia nos argumentos de Zittrain: a Apple, que deixou uma marca indelével na consciência das pessoas com um comercial sobre ir contra “o sistema”, pode justamente estar construindo um muro para o seu crescimento.

Site: Computerworld
Data: 06/12/2011
Hora: 11h12
Seção: Tecnologia
Autor: ——
Link: http://computerworld.uol.com.br/tecnologia/2011/12/06/para-pesquisador-ios-e-queda-do-pc-sao-ameacas-a-inovacao/

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