
O Brasil vive um importante momento de transformação digital. Um recente relatório da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) projeta que o setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) alcançará investimentos de mais de R$774 bilhões até 2028, consolidando-se como um dos principais motores de crescimento da economia nacional. O segmento já representa 6,5% do PIB e impacta diretamente a produtividade de todos os demais setores. Dentro desse cenário, o Rio de Janeiro ocupa lugar de destaque, mas ainda com potencial de crescimento.
O estado combina tradição acadêmica, centros de pesquisa de excelência, infraestrutura energética e de telecomunicações e um ecossistema criativo reconhecido mundialmente. Prova disso são iniciativas como o Rio AI City, que posiciona a capital como a primeira cidade da América Latina dedicada à inteligência artificial, equipada com supercomputador da Nvidia; e o Porto Maravalley, que revitaliza o Centro da cidade com tecnologia e startups.
Estudo recente da consultoria BIP reforça essa visão: o Rio apresenta score de atratividade de 3,5 em 5 para implantação de hubs de data centers, com destaque para a conectividade internacional via cabos submarinos. Mas também expõe gargalos como custos de energia, processos lentos de licenciamento e a necessidade de maior clareza regulatória. O documento mostra que, com iniciativas em curso, como o Marco Legal de Data Centers, a Política Estadual de Fomento à IA (PL 4669/2025), o Plano Estratégico do Rio 2025–2028 e projetos como o Rio Digital e o CIVITAS, esse índice pode evoluir para 4,0, colocando o estado em posição competitiva frente aos maiores hubs internacionais.
Para consolidar esse protagonismo, é fundamental não restringir a estratégia apenas à capital. A cidade do Rio deve, sim, liderar, mas a interiorização da tecnologia também é uma saída para ampliar oportunidades, reduzir desigualdades e fortalecer a resiliência econômica. O estado possui universidades de ponta no interior, parques tecnológicos e arranjos produtivos locais que oferecem custos competitivos, espaço físico e qualidade de vida para atrair e reter talentos. Um exemplo dessa força é o supercomputador Santos Dumont, instalado em Petrópolis, que mostra o potencial criativo espalhado pelo território fluminense.
Essa descentralização dialoga com outro desafio urgente: a formação de profissionais. Segundo a Brasscom, o Brasil precisará de quase 800 mil novos trabalhadores de TIC até o fim deste ano. Interiorizar significa multiplicar e não dividir esforços: ao conectar polos regionais de inovação a universidades e empresas, cria-se escala para programas de capacitação, residências profissionais e geração de empregos qualificados.
Além disso, a interiorização pode ser um caminho estratégico para enfrentar gargalos estruturais já apontados: disponibilidade de energia, custo imobiliário elevado e pressão por infraestrutura em áreas concentradas. Distribuir hubs pelo estado reduz riscos, amplia a competitividade e torna o estado do Rio referência em data centers verdes, aproveitando sua disponibilidade de energia renovável, estabilidade geopolítica e ambiente natural favorável. Poucos lugares do país oferecem uma combinação tão completa de vantagens.
A transformação digital só será sustentável se for inclusiva. Isso exige uma visão de longo prazo que una governo, empresas e academia em torno de uma agenda comum: ampliar infraestrutura, criar um ecossistema regulatório favorável, investir em formação profissional e integrar capital e interior em uma mesma estratégia. Só assim construiremos um estado competitivo, inclusivo e menos dependente de ciclos tradicionais, como o petróleo e o turismo.
Não podemos nos limitar a espectadores de uma revolução já em curso no Brasil e no mundo. O Rio tem condições para ser protagonista, e só assumirá esse papel quando valorizar toda a sua diversidade regional, da capital aos polos do interior. É assim que construiremos um estado competitivo, inovador e globalmente relevante.

Alberto Blois, presidente do TI Rio.
Publicado na TIInside