O hype pode estourar: por que o Vale do Silício teme uma bolha da IA

o hype pode estourar por que o vale do silício teme uma bolha da ia

A inteligência artificial (IA) é o epicentro da nova revolução tecnológica e financeira do século XXI, e, para muitos analistas, também a próxima bolha prestes a estourar. O alerta, que até recentemente soava exagerado, ganhou força após o próprio cofundador da OpenAI, Sam Altman, admitir durante a conferência DevDay que “há partes do segmento de IA que estão meio infladas neste momento”.

O comentário ecoou em um mercado já tomado por euforia. Startups sem produto consolidado têm atraído bilhões em investimentos, e empresas como Nvidia, Microsoft, AMD e Oracle se envolvem em acordos trilionários que misturam parcerias tecnológicas e complexos mecanismos financeiros. Para críticos, o setor vive um “vale-tudo” de engenharia financeira, onde a percepção de demanda pode estar sendo inflada por empréstimos e reinvestimentos circulares.

O epicentro da euforia

Desde o lançamento do ChatGPT, em 2022, a OpenAI se tornou símbolo de uma corrida bilionária por poder computacional e algoritmos cada vez mais sofisticados. Em 2025, a empresa firmou um contrato de US$ 100 bilhões com a Nvidia, que por sua vez já havia investido na própria OpenAI. Pouco depois, a startup anunciou a compra de bilhões em equipamentos da AMD, rival direta da Nvidia, tornando-se potencial acionista da fabricante. Paralelamente, a Oracle mantém um contrato de US$ 300 bilhões com a empresa, enquanto o projeto Stargate, no Texas, é financiado por gigantes como SoftBank e pela própria Oracle.

Esses movimentos levantaram suspeitas sobre financiamentos cruzados (quando empresas investem em seus próprios clientes para sustentar o ciclo de consumo). Altman reconheceu que “os empréstimos de investimento são sem precedentes”, mas tentou justificar: “também é sem precedentes empresas crescerem tão rápido”.

O problema, como destacam especialistas, é que a OpenAI nunca registrou lucro, apesar do crescimento vertiginoso da receita.

O alerta dos veteranos – Entre os mais cautelosos está Jerry Kaplan, pioneiro da IA e autor de Humans Need Not Apply, que viveu quatro bolhas tecnológicas. Para ele, “quando [a bolha] estourar, vai ser muito ruim, e não apenas para quem trabalha com IA. Vai arrastar o restante da economia junto”.

O temor encontra eco em instituições como o Banco da Inglaterra, o FMI e o JP Morgan, cujo CEO, Jamie Dimon, advertiu: “o nível de incerteza deveria estar mais presente na mente das pessoas”. O risco não é apenas financeiro. É estrutural.

O custo energético da revolução

A corrida por data centers capazes de treinar modelos de IA vem criando um impacto ambiental inédito. No Brasil, já existem 162 data centers, com capacidade equivalente ao consumo energético de uma cidade de 2 milhões de habitantes. Até 2038, a demanda global por energia para IA pode alcançar níveis comparáveis ao consumo de uma metrópole de 43 milhões de pessoas.

“Estamos criando um novo desastre ecológico feito pelo homem”, alerta Kaplan. “Enormes centros de dados em locais remotos que vão enferrujar e liberar substâncias nocivas, sem ninguém responsabilizado.”

O dilema da bolha – A consultoria Gartner estima que os gastos globais com IA alcancem US$ 1,5 trilhão até o fim de 2025 (um valor equivalente a 70% do PIB brasileiro). Só em 2025, empresas de IA responderam por 80% dos ganhos da Bolsa americana.

Para a professora Anat Admati, da Stanford Graduate School of Business, o problema é epistemológico: “É muito difícil prever uma bolha. Você só sabe que estava em uma quando ela estoura”.

Ainda assim, o alerta parece inevitável. A história recente mostra que o colapso das pontocom, nos anos 1990, pavimentou a infraestrutura da internet moderna. Talvez, mesmo que a bolha da IA estoure, os investimentos deixem um legado físico e tecnológico duradouro.

Como disse Jeff Boudier, da Hugging Face: “Se há excesso de investimento em infraestrutura para cargas de trabalho de IA, pode haver riscos financeiros. Mas isso vai viabilizar muitos novos produtos e experiências. Inclusive os que ainda nem imaginamos”.

Texto: Redação TI Rio

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