
A inteligência artificial (IA) está revolucionando diversos setores, mas seu crescimento acelerado traz à tona preocupações ambientais significativas, especialmente relacionadas ao consumo energético dos data centers. Estudos recentes apontam que, até o final de 2025, a IA poderá ser responsável por até 49% do consumo de eletricidade desses centros de dados globalmente, excluindo a mineração de criptomoedas, segundo relatório publicado pelo The Guardian com base na análise de Alex de Vries-Gao, economista e fundador da plataforma Digiconomist.
Apenas em 2024, os data centers ao redor do mundo consumiram cerca de 415 terawatts-hora (TWh) de eletricidade. Para se ter uma ideia da escala, esse volume de energia é equivalente a quase toda a eletricidade consumida por um país como a Argentina em um ano, ou cerca de 1,5 vezes o consumo anual de eletricidade do estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma carga energética gigantesca (e crescente) movida principalmente pelo uso intensivo de chips de alto desempenho em treinamentos e aplicações de IA.
Segundo o relatório, a IA já representa cerca de 20% desse total de energia, com tendência de duplicar até o final de 2025. Isso se deve, em grande parte, ao avanço das soluções generativas (como os grandes modelos de linguagem), que demandam alta capacidade computacional e funcionam em tempo real, 24 horas por dia.
Além do consumo elétrico, há também preocupação com o uso de recursos hídricos. O Lawrence Berkeley National Laboratory, centro de pesquisa financiado pelo governo dos Estados Unidos e administrado pela Universidade da Califórnia, estima que os data centers dos Estados Unidos podem consumir até 12% da eletricidade nacional até 2028, impulsionados pela IA. Esse ritmo de crescimento levanta dúvidas sobre a capacidade das fontes renováveis acompanharem a expansão da demanda.
Esforços de mitigação e o papel do Brasil – Diante desse cenário, grandes empresas de tecnologia vêm adotando estratégias para reduzir o impacto ambiental da IA, como investimentos em fontes limpas e otimização do uso computacional. No Brasil, o governo anunciou em 2025 a Nova Política de Data Centers, que pretende garantir que esses centros sejam abastecidos com energia renovável e contem com infraestrutura segura, segundo o Portal gov.br .
Outra iniciativa relevante é o Programa de Sustentabilidade e Energias Renováveis para IA, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que prevê um investimento de R$ 500 milhões em projetos que conciliem tecnologia e responsabilidade ambiental. A proposta faz parte do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA).
O risco da “IA invisível”
Mesmo com esses avanços, especialistas como Alex de Vries alertam que o maior desafio ainda é a falta de transparência. As grandes empresas não divulgam de forma clara o quanto de energia suas IAs consomem, o que dificulta a implementação de políticas públicas eficazes e o monitoramento da pegada ecológica da tecnologia.
À medida que a IA se torna um recurso indispensável para o progresso econômico e social, sua sustentabilidade precisa ser debatida com a mesma intensidade. É preciso regulamentar, medir e adaptar. Em um mundo digital cada vez mais dependente de modelos computacionais, não basta inovar, é preciso fazê-lo com consciência.
Texto: Redação TI Rio