
A startup francesa Mistral anunciou uma nova série de modelos avançados de inteligência artificial em formato aberto, segundo matéria publicada na revista Exame, dando novo fôlego à Europa em um cenário dominado por Estados Unidos e China. O lançamento chega no momento em que cresce a preocupação de que o continente esteja ficando atrás na corrida tecnológica.
A empresa revelou o Mistral Large 3, descrito como um dos modelos multimodais e multilíngues mais potentes já disponibilizados de forma aberta. Ele opera na maioria dos idiomas europeus e em diversos asiáticos, ampliando a capacidade de empresas, universidades e desenvolvedores criarem soluções sofisticadas sem depender de sistemas fechados.
A novidade surge após um estudo recente indicar que empresas chinesas, como DeepSeek e Alibaba, superaram as americanas pela primeira vez no mercado global de modelos abertos. Para Guillaume Lample, cofundador e cientista-chefe da Mistral, tornar esses sistemas abertos faz parte da missão de “colocar a IA nas mãos de todos” e fortalecer a autonomia europeia no setor.
Enquanto gigantes americanos continuam priorizando modelos totalmente fechados, monetizados por assinaturas e contratos corporativos, a Mistral aposta no caminho inverso. Especialistas do ecossistema de IA, como Lucie-Aimée Kaffee, da Hugging Face, afirmam que o código aberto é a única via realista para a Europa competir globalmente.
O lançamento dialoga também com a nova estratégia da Comissão Europeia, que busca ampliar a soberania tecnológica do bloco. A iniciativa pretende reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros, garantir segurança digital e estimular competitividade industrial.
Além do novo modelo principal, a Mistral apresentou versões menores e mais rápidas que podem operar offline, oferecendo maior controle sobre dados sensíveis. A proposta abre espaço para aplicações em defesa, saúde, robótica e dispositivos autônomos.
A recepção no ecossistema europeu foi majoritariamente positiva, mas há críticas. Pesquisadores apontam que modelos de “peso aberto” não fornecem o mesmo nível de transparência que modelos totalmente open source, especialmente pela ausência dos dados de treinamento. Andreas Liesenfeld, da Universidade Radboud, reforça que a Europa ainda enfrenta um gargalo na disponibilidade de grandes bases de dados para treinar sistemas competitivos globalmente.
Mesmo com limitações, o movimento da Mistral recoloca o continente no radar da inovação global. Para muitos especialistas, é o sinal mais forte até agora de que a Europa está disposta a disputar espaço na revolução da inteligência artificial.
Texto: Redação TI Rio