Internet aberta e serviços IP devem ser separados, dizem pioneiros da TI

Em carta à FCC, 32 especialistas e pioneiros da tecnologia expõem dúvidas e dão sugestões sobre neutralidade da rede e priorização de tráfego.

A Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC, na sigla em inglês) deveria permitir a separação entre uma Internet aberta e os serviços especializados que priorizam o tráfego IP, recomendam especialistas e pioneiros da tecnologia.

Em um documento entregue como resposta a uma solicitação da FCC por comentários públicos às regras propostas de neutralidade na rede, o grupo não chega a especificar que regras deveriam ser aplicadas à Internet aberta. Mas as distinções entre a Internet aberta e os serviços especializados baseados em seu protocolo precisam ser “definidas de forma clara”, afirma o grupo de 32 especialistas.

“Se um serviço fornece acesso prioritário a uma aplicação ou a um destino específico, não é um serviço de Internet aberta”, afirma o grupo. “Informações sobre capacidade e velocidade da Internet deve descrever apenas a capacidade e a velocidade alocadas para o serviço Internet.”
O documento assinado pelo grupo também sugere que haveria pouca necessidade de gerenciamento da Internet aberta, se forem autorizados tais serviços especializados.

Gente graúda
Entre os especialistas que assinaram o documento estão Steve Wozniak, cofundador da Apple; Bruce Perens, fundador do movimento de software open source; Clay Shirky, escritor e palestrante do Programa de Telecomunicações Interativas da Universidade de Nova York; e David Reed, colaborador no desenvolvimento do TCP/IP e professor adjunto do Media Lab do MIT. O grupo solicitou à FCC que examine o papel dos serviços especializados, ou gerenciados, no debate atual sobre neutralidade de rede.

Os comentários públicos foram entregues na quinta-feira (4/11), como resposta às questões levantadas pela FCC sobre as regras propostas para neutralidade da rede – especialmente sobre se a proibição dos provedores de banda larga de bloquear seletivamente o tráfego IP, ou mesmo de torná-lo mais lento, poderiam ser aplicadas a serviços especializados e a operadoras móveis. A Google e a Verizon sugeriram que os serviços especializados e as operadoras móveis fossem excluídas das regras de neutralidade de rede em uma proposta conjunta divulgada em agosto, e muitos grupos pró-neutralidade criticaram a Google por apoiar as exclusões.

Risco de canibalização
Alguns defensores da neutralidade na rede preocupam-se com a possibilidade de que os serviços especializados IP possam “canibalizar a capacidade ou o conteúdo da Internet”, disse Chris Riley, conselheiro de políticas da Free Press, um grupo de direitos digitais que defende regras mais firmes. “O que nos preocupa é que isso possa se tornar uma exceção sem limites à não discriminação.”

Mas a Free Press concorda com o documento em relação à ideia de que uma Internet aberta deveria ser livre da priorização de tráfego, disse Riley. O documento também reconhece que os serviços especializados não deveriam substituir a Internet livre, acrescentou.

Uma proposta de “veracidade dos rótulos” e uma exigência de que os serviços especializados sejam significativamente diferentes dos da Internet poderiam ajudar a proteger os clientes de banda larga, disse David Isenberg, um consultor de telecomunicações e autor do artigo “The Rise of the Stupid Network” (A Ascensão da Rede Estúpida), de 1997.

“Se um usuário de um serviço pensa que está na Internet aberta, mas na verdade está em um serviço gerenciado, isso seria ruim”, disse Isemberg, que assinou o documento. “Também seria ruim se a Internet aberta tivesse níveis de velocidade, fosse desacelerada, ou não estivesse sujeita a atualização no mesmo ritmo dos serviços gerenciados.”

Discriminação na rede
Reed, do MIT, disse estar mais preocupado com os esforços dos provedores de banda larga de discriminarem alguns tipos de tráfego na web do que na concorrência de serviços especializados.

“Hoje a Internet aberta se encarrega de uma fração da capacidade de serviço entregue pelos provedores sobre serviços de banda larga em fibra e cabo; mesmo assim, usuários e serviços (como TV e telefonia) estão migrando para a Internet aberta e se distanciando dos serviços especializados”, disse ele, por e-mail. “Há uma boa razão – a Internet aberta oferece serviços melhores e mais inovadores do que qualquer provedor poderia construir.”

O documento também questionou a necessidade de um rígido gerenciamento de rede no caso de serviços especializados IP implantarem tráfego priorizado, a menos que os provedores de banda larga não cumpram com suas promessas de largura de banda.

As regras de neutralidade de rede propostas pela FCC abririam espaço para “gerenciamento razoável da rede”, mas há um debate atual sobre o que o termo significa.

A Internet aberta não exigiria gerenciamento de rede “a menos que a congestão fosse causada por um estoque de capacidade menor do que a que o provedor oferece a seus assinantes”, afirmam os pioneiros da Internet, no documento. “Isso só seria necessário no caso de a capacidade que os provedores dizem ter disponível não estiver de fato.”

Os provedores de banda larga têm alegado que precisam gerenciar as redes para proteger os clientes dos chamados glutões da banda larga (bandwidth hogs – porcos da banda larga –, no original). Reed e Isenberg contestam a expressão.

“Outros nomes para essas pessoas seriam ‘power users’, entusiastas da Internet, e exemplos do que será o internauta médio do futuro”, disse Isenberg. “Eles são previsíveis, tal como são os eventos de pico de consumo de banda larga. Se uma empresa de acesso à Internet não se prepara para eventos desse tipo, então eles estão oferecendo um produto inferior.”

Site: IDG Now!
Data: 09/11/2010
Hora: 07h25
Seção: Internet
Autor: Grant Gross
Link: http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/11/09/internet-aberta-e-servicos-ip-devem-ser-separados-dizem-pioneiros-da-ti/

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