Inteligência Artificial, pesquisa e o papel do Brasil no cenário global: impressões do ECAI 2025

artigo pablo ecai2025

“O Brasil precisa transformar pesquisa em produto e conhecimento em desenvolvimento.”

Essa é uma das reflexões apresentadas no artigo de Pablo Braga, diretor do TI Rio e CEO da Sidetech, que compartilha suas impressões após participar do European Conference on Artificial Intelligence (ECAI 2025), em Bolonha, na Itália, um dos eventos mais relevantes do mundo sobre Inteligência Artificial e seus impactos na sociedade.

Entre os dias 27 e 30 de outubro, participei do European Conference on Artificial Intelligence (ECAI 2025), realizado em Bolonha, na Itália. Trata-se de um dos congressos científicos mais tradicionais e respeitados do mundo na área de Inteligência Artificial, um espaço em que pesquisadores, universidades e empresas de ponta se reúnem para discutir avanços teóricos e aplicações práticas que estão moldando o futuro da tecnologia.

Ao longo de quatro dias de imersão, foi possível perceber com clareza como o ecossistema global de IA vem se transformando. O foco das discussões já não está apenas na performance dos modelos ou na eficiência computacional, mas na confiabilidade, interpretabilidade e impacto social dos sistemas inteligentes. Em outras palavras, a IA está amadurecendo, e a comunidade científica está direcionando seus esforços para torná-la não apenas poderosa, mas também ética, explicável e colaborativa.

Da teoria à colaboração entre agentes inteligentes

Entre as apresentações que mais chamaram minha atenção, destaco a do professor Mohit Bansal, que abordou o tema dos agentes de IA confiáveis e adaptativos. Sua pesquisa investiga como treinar agentes capazes de colaborar entre si e com humanos, mantendo calibração de confiança, transparência nas decisões e capacidade de adaptação em contextos complexos.

A discussão trouxe uma visão interessante sobre o futuro das aplicações multimodais, nas quais texto, imagem, código e áudio são integrados de forma interpretável e controlável. Trata-se de um avanço técnico que também exige um novo olhar sobre governança de IA, já que esses agentes autônomos poderão apoiar atividades críticas em áreas como saúde, educação e indústria.

Outro ponto de destaque foi a sessão dedicada à robótica em enxame (swarm robotics). A palestra apresentou uma arquitetura híbrida que combina os benefícios de sistemas descentralizados (autonomia e resiliência) com elementos de coordenação central, criando o que os pesquisadores chamam de “auto-organização hierárquica”. Os exemplos práticos incluíram monitoramento ambiental, busca e resgate e automação logística, demonstrando como os princípios da biologia e da física podem inspirar novas formas de coordenação entre robôs de forma eficiente e escalável.

IA e o comportamento humano: da multidão à inclusão digital

Um outro estudo que chamou atenção abordou o gerenciamento de multidões em grandes eventos, combinando dados de sensores, câmeras e simulações para prever comportamentos coletivos. Essa abordagem multidisciplinar, que une IA, física e psicologia, mostra como os algoritmos podem ser aplicados para garantir segurança e otimizar fluxos em espaços urbanos.

Também participei de uma mesa redonda sobre inclusão digital e desigualdade socioeconômica no acesso à IA. O debate trouxe uma reflexão necessária: à medida que a inteligência artificial avança rapidamente na Europa e na América do Norte, países em desenvolvimento ainda enfrentam barreiras significativas para transformar pesquisa em impacto social. A discussão destacou a necessidade de políticas públicas, investimentos em infraestrutura computacional e incentivo à formação de talentos locais, pontos que se conectam diretamente à realidade brasileira.

O aprendizado que o Brasil precisa internalizar

Ao acompanhar o ECAI 2025, ficou claro para mim que investir em educação e pesquisa científica é o caminho mais seguro e estratégico para o desenvolvimento sustentável da IA no Brasil. A distância entre laboratórios de ponta e o mercado aplicado tende a diminuir quando há políticas consistentes de incentivo à inovação, programas de fomento e uma cultura que valorize a formação técnica e interdisciplinar.

Enquanto na Europa a presença de universidades como Oxford, ETH Zurich e Politecnico di Milano se destaca pelo volume de pesquisas aplicadas, o Brasil ainda precisa consolidar pontes entre o setor acadêmico, as empresas e o poder público. Temos centros de excelência e talentos reconhecidos, mas precisamos ampliar o investimento em bolsas, programas de intercâmbio e parcerias internacionais que tragam visibilidade e troca de conhecimento.

Além disso, é essencial que a IA seja tratada não apenas como ferramenta tecnológica, mas como um vetor estratégico de soberania digital. A capacidade de formar e reter profissionais especializados será determinante para que o país mantenha competitividade e autonomia em áreas críticas como saúde, segurança, energia e educação.

Educação, pesquisa e cooperação: os pilares do futuro

Em minha fala final para o TI Rio, destaquei justamente esse ponto: o Brasil precisa investir de forma contínua na formação de profissionais e pesquisadores em IA, para que o desenvolvimento tecnológico esteja alinhado às necessidades e valores da nossa sociedade. Participar de eventos como o ECAI é uma oportunidade de observar de perto as tendências globais, mas também de compreender que a inovação real depende de cooperação entre academia, governo e empresas.

A inteligência artificial não deve ser vista apenas como uma revolução tecnológica, mas como um projeto coletivo de conhecimento, que demanda ética, diversidade de perspectivas e compromisso com o impacto humano.

Concluo esta experiência com a convicção de que o Brasil tem todas as condições para ocupar um papel relevante nesse cenário. Temos criatividade, uma comunidade técnica crescente e exemplos inspiradores de aplicação de IA em educação, saúde e agronegócio. O que precisamos agora é de continuidade e visão estratégica: transformar pesquisa em produto e conhecimento em desenvolvimento.

Texto: Pablo Braga, Diretor do TI Rio e CEO da Sidetech

Pesquise no TI RIO