Google cria algoritmo quântico 13 mil vezes mais rápido que um supercomputador — e pode mudar tudo que sabemos sobre ciência

google cria algoritmo quântico 13 mil vezes mais rápido que um supercomputador — e pode mudar tudo que sabemos sobre ciência

Avanço apresentado na revista Nature marca um salto histórico na corrida global pela computação quântica e promete transformar áreas como medicina, inteligência artificial e desenvolvimento de materiais.

O Google anunciou um avanço que pode redefinir os limites da computação moderna: um novo algoritmo quântico 13 mil vezes mais rápido do que o software equivalente em um supercomputador tradicional.
O feito, revelado em artigo publicado na Nature, foi conduzido no laboratório de computação quântica da empresa em Santa Bárbara (Califórnia, EUA), e já é considerado um marco comparável aos maiores saltos tecnológicos do século.

O projeto, batizado de Quantum Echoes, contou com a participação de Michel H. Devoret, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 2025, que ingressou no Google em 2023. Segundo ele, o novo algoritmo representa “um passo fundamental rumo à aplicação prática da computação quântica”.

“No futuro, quando tivermos computadores quânticos maiores, poderemos realizar cálculos impossíveis com algoritmos clássicos”, afirmou Devoret.

Um salto na corrida quântica mundial

O Quantum Echoes não é apenas um avanço técnico, mas um sinal claro de que o Google assumiu a dianteira em uma disputa global bilionária que envolve Microsoft, IBM, startups e governos inteiros, especialmente a China, que já investiu mais de US$ 15 bilhões na área.

Diferente dos computadores convencionais, que operam com bits (0 ou 1), os computadores quânticos manipulam qubits, capazes de representar ambos os valores ao mesmo tempo. Essa sobreposição, prevista pelas leis da mecânica quântica, permite cálculos exponencialmente mais complexos conforme o número de qubits aumenta.

A professora Prineha Narang, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), destacou em entrevista ao The New York Times que a conquista do Google é “um avanço real”.

“Temos ouvido muito sobre avanços em hardware, e por um tempo temi que os algoritmos não acompanhassem. Mas eles mostraram que esse não é o caso”, afirmou Narang.

De átomos artificiais a computadores do futuro

O nome de Michel Devoret não é novo nesse campo. Na década de 1980, ao lado de John M. Martinis e John Clarke, o físico demonstrou que as propriedades quânticas poderiam ser observadas em circuitos elétricos visíveis a olho nu.

“Mostramos, pela primeira vez, que era possível construir átomos a partir de circuitos elétricos”, recorda Devoret.

Essa descoberta abriu caminho para os qubits supercondutores, usados hoje pelos maiores laboratórios de computação quântica do mundo — inclusive o próprio Google.

O poder (e os limites) da era quântica

Apesar dos avanços, a computação quântica ainda enfrenta erros frequentes e limitações técnicas. Mas melhorias recentes nas técnicas de correção de erros têm alimentado o otimismo da comunidade científica, que espera ver o potencial pleno da tecnologia até o fim desta década.

Em 2023, o Google já havia demonstrado a chamada “supremacia quântica”, quando um de seus processadores realizou um cálculo matemático complexo em menos de cinco minutos, algo que um supercomputador convencional levaria dez septilhões de anos (mais tempo do que a idade do Universo).

Agora, a meta é alcançar a “utilidade quântica”, isto é, o ponto em que as máquinas quânticas superam os sistemas clássicos em tarefas de valor real, como simulações químicas, diagnósticos médicos e aplicações em inteligência artificial.

“Para que a promessa dos computadores quânticos se concretize, precisamos produzir um novo medicamento que só conhecemos graças a eles. Aí, poderemos dizer que todo o investimento valeu a pena”, afirmou Narang.

Quantum Echoes e o impacto na medicina e nos materiais

Além da publicação na Nature, o Google apresentou um segundo estudo no repositório científico arXiv, mostrando que o Quantum Echoes pode revolucionar as técnicas de ressonância magnética nuclear (RMN), ferramenta essencial para estudar a estrutura de moléculas.

Segundo Ashok Ajoy, professor assistente de química na Universidade da Califórnia em Berkeley, que colaborou com o projeto, o novo algoritmo pode melhorar a precisão e a velocidade das análises moleculares, beneficiando tanto o desenvolvimento de medicamentos quanto a criação de materiais avançados.

“Isto ilustra o poder de um computador quântico. Ainda é o início, mas as perspectivas são empolgantes”, afirmou o pesquisador.

Uma nova era da computação

O Quantum Echoes marca um momento decisivo para a história da ciência e da tecnologia. O que antes era apenas teórico começa a se materializar — e, segundo os pesquisadores, o impacto será tão profundo quanto o da invenção do transistor ou da internet.

TEXTO: Redação TI Rio

Pesquise no TI RIO