
Investimentos reforçam a nova fase da disputa tecnológica, marcada por dados, poder computacional e infraestrutura avançada
Duas gigantes da tecnologia anunciaram, nos últimos dias, movimentos bilionários que escancaram a disputa cada vez mais intensa por protagonismo no universo da inteligência artificial e dos semicondutores. De um lado, a Meta – controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp – está em negociações avançadas para investir mais de US$ 10 bilhões na startup americana Scale AI, especializada em rotulagem de dados para treinar modelos de machine learning. Do outro, a fabricante de chips Qualcomm confirmou a compra da britânica Alphawave, em um negócio avaliado em US$ 2,4 bilhões, ampliando sua atuação no setor de semicondutores voltados à inteligência artificial.
A possível entrada da Meta na Scale AI reforça uma tendência estratégica da empresa: investir cada vez mais nos bastidores da IA. A startup, sediada em San Francisco, tornou-se uma das mais relevantes no fornecimento de dados cuidadosamente rotulados – etapa fundamental para o treinamento de sistemas de inteligência artificial generativa, como os utilizados por ChatGPT e outras plataformas. A Scale já presta serviços para empresas como Microsoft e OpenAI, além de atuar com clientes ligados à área de defesa, o que aumenta a relevância geopolítica do negócio.
Segundo fontes próximas à negociação, a Meta pretende adquirir quase metade da Scale, em um acordo que poderia incluir a presença do CEO da startup, Alexandr Wang, em projetos estratégicos da gigante de Mark Zuckerberg. Caso se concretize, será o maior investimento individual já feito pela Meta em uma empresa externa, demonstrando o apetite da big tech por controle sobre os insumos que alimentam os modelos de IA – neste caso, os dados.
Enquanto isso, no setor de hardware, a Qualcomm avança para se consolidar como uma das principais fornecedoras de infraestrutura para a era da inteligência artificial. A compra da Alphawave, especializada em soluções de conectividade de altíssima velocidade para data centers, é vista como uma jogada para ampliar a capacidade da empresa em oferecer chips otimizados para aplicações em IA, computação de borda e automação industrial. A aquisição, com pagamento previsto para ocorrer até 2026, dobra a aposta da Qualcomm em mercados além dos tradicionais chips de smartphones, colocando a empresa em rota direta de concorrência com NVIDIA, AMD e outras potências do setor.
Os dois anúncios ocorrem em um momento de intensa movimentação global por poder computacional. À medida que a inteligência artificial se torna mais sofisticada, empresas e governos correm para garantir acesso não só aos algoritmos, mas também aos elementos que viabilizam sua existência: dados de qualidade, processadores potentes e redes de conectividade ultrarrápidas.
Especialistas avaliam que essas movimentações apontam para um novo capítulo na chamada “corrida tecnológica”: menos focada no produto final que o usuário vê, e mais centrada na disputa por controle sobre os recursos estruturais da IA. Nesse cenário, quem domina os dados e os chips, domina o futuro.
As operações ainda estão sujeitas a aprovação regulatória, especialmente no caso da Qualcomm, que enfrentará análises em diferentes mercados. Já a Meta, embora em tratativas privadas, deverá enfrentar questionamentos sobre concentração de poder e uso ético de dados.
Texto: Redação TI Rio