
A demanda global por profissionais de tecnologia continua em expansão e os desenvolvedores brasileiros seguem entre os mais disputados. Um levantamento realizado pela TechFX, plataforma de câmbio especializada em profissionais que recebem do exterior, revela que os Estados Unidos concentram 85% das contratações de devs brasileiros que trabalham para empresas internacionais. Dos 1.428 profissionais entrevistados, 1.220 atuam diretamente para organizações norte-americanas, com salários médios que podem chegar a US$ 110 mil anuais.
O estudo confirma o que o mercado já vinha sinalizando: o Brasil tornou-se um celeiro de talentos. E, para companhias estrangeiras, especialmente as americanas, trata-se de um contingente qualificado, adaptável e financeiramente competitivo.
Disputa global por brasileiros
Segundo a TechFX, após os Estados Unidos, apenas 1,85% das contratações são realizadas por Canadá e Austrália, empatados na segunda posição. Reino Unido, Argentina, Portugal, México e Alemanha aparecem na sequência, todos com participação inferior a 2%.
Para Eduardo Garay, CEO da TechFX, a predominância norte-americana é resultado direto da percepção de valor sobre o profissional brasileiro. “O brasileiro combina formação técnica sólida com criatividade e adaptabilidade. Competências raras e muito valorizadas fora do país”, afirma.
Ele destaca, ainda, o diferencial financeiro: empresas estrangeiras chegam a pagar salários até quatro vezes maiores do que os praticados no Brasil, especialmente para profissionais contratados como pessoa jurídica.
Brasil: entre os que mais formam talentos e os que mais perdem especialistas
O interesse internacional acompanha a própria densidade do mercado brasileiro. Segundo dados da JetBrains, existem hoje cerca de 19,6 milhões de desenvolvedores no mundo, dos quais aproximadamente 630 mil estão no Brasil. Isso coloca o país na quinta posição global em número absoluto de devs.
Apesar disso, o Brasil convive com um déficit estimado de 500 mil profissionais de TI, provocado, em parte, pela migração crescente de talentos para oportunidades globais.
Entre 2020 e 2023, a contratação de brasileiros por empresas internacionais cresceu 491%, segundo o estudo Brazilian Global Salary, também realizado pela TechFX. A pesquisa, feita com 1.611 profissionais, mostra que 73% consideram trabalhar no exterior, enquanto a demanda internacional por brasileiros cresce, em média, 40% ao ano.
Garay resume o movimento:
“Com a desvalorização da moeda local e a competitividade dos salários externos, é natural que os talentos busquem mercados mais maduros. A excelência técnica do brasileiro o torna cada vez mais requisitado.”
Para onde os devs vão: os maiores hubs tecnológicos do mundo
O levantamento da JetBrains também mostra quais países concentram mais desenvolvedores e, portanto, oferecem ecossistemas mais robustos e oportunidades mais diversas. Esses mercados, não por acaso, se aproximam dos destinos mais buscados pelos brasileiros.
China: 3,88 milhões de devs
Maior comunidade de desenvolvedores do mundo, com mercado de software estimado em US$ 2 trilhões e forte presença em IA. Contudo, mantém baixa abertura para mão de obra estrangeira, o que limita a entrada de brasileiros.
Estados Unidos: 2,91 milhões de devs
O segundo maior contingente e o mais atrativo para brasileiros. O país contrata cerca de 200 mil profissionais de TI por ano de diversas nacionalidades, com salário médio anual de US$ 110.140. O volume de oportunidades e a política ativa de contratação internacional explicam sua liderança isolada.
Alemanha: 832 mil devs
Principal polo tecnológico da Europa continental, com salários médios de US$ 52.275 por ano. O país mantém programas como o Working Holiday Visa, facilitando a entrada de jovens brasileiros.
Canadá: 632 mil devs
Mercado em expansão, com 80 mil vagas abertas e salários de cerca de US$ 61.680 ao ano. Políticas migratórias flexíveis colocam o país entre os destinos mais acessíveis a brasileiros.
Reino Unido: 500 mil devs
Com Londres como centro de inovação, oferece salários médios de US$ 55.275. Embora represente parcela menor das contratações de brasileiros, permanece como destino estratégico pela maturidade do ecossistema e pela presença concentrada de empresas globais.
Um mercado em transformação e um Brasil que forma mais do que retém
O conjunto dos dados mostra um descompasso: o Brasil forma talentos em volume e com alta qualidade técnica, mas ainda enfrenta dificuldades para retê-los. A combinação de dólar forte, remunerações superiores e flexibilidade do trabalho remoto expandiu a competição internacional por brasileiros, e tende a manter a pressão sobre o mercado nacional.
Ao mesmo tempo, a presença cada vez maior de devs brasileiros em empresas estrangeiras reforça o reconhecimento internacional da capacidade técnica do país, sua adaptabilidade cultural e sua relevância no mercado global de tecnologia.
Texto: Redação TI Rio