DTV+: o novo padrão de TV brasileira e as oportunidades para startups e negócios digitais

dtv tv 3.0 no brasil 1024x597.jpg

O Brasil acaba de oficializar a DTV+ (TV 3.0) como novo padrão nacional de televisão digital. O decreto presidencial, assinado no Palácio do Planalto, marca uma mudança significativa: o país adota uma tecnologia de transmissão que incorpora elementos do ATSC 3.0, padrão já consolidado em mercados como Estados Unidos e Coreia do Sul.

Segundo a ATSC (Advanced Television Systems Committee), cerca de 80% da população brasileira ainda consome TV aberta. Isso significa que a chegada da DTV+ tem peso não apenas cultural, mas também econômico e tecnológico. O governo projeta transmissões comerciais até a Copa do Mundo de 2026, após pilotos em Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

O novo padrão traz ganhos técnicos imediatos em áudio e vídeo de alta qualidade, legendas aprimoradas, alertas de emergência mais precisos e interatividade em tempo real. Mas a grande questão é: quais oportunidades essa nova TV abre para empresas, startups e o ecossistema digital?

Publicidade e e-commerce na tela – Com a DTV+, a televisão deixa de ser apenas um canal unidirecional e se transforma em uma plataforma híbrida, unindo radiodifusão e internet. Esse avanço abre espaço para publicidade personalizada e interativa, aproximando a TV aberta da lógica do digital.

De acordo com Kyrylo Stegnii, especialista da Oxagile, o ATSC 3.0 já permite nos EUA a inserção de anúncios altamente contextuais e personalizados, com base em dados como CEP ou hábitos de consumo. “Alguém vendo um infomercial pode receber uma sobreposição com ofertas específicas da loja mais próxima e com um clique acessar detalhes ou ofertas personalizadas”, explica. Esse modelo abre espaço para adtechs, agências criativas e plataformas de e-commerce integradas à TV.

O e-commerce também ganha uma nova vitrine. O telespectador poderá comprar produtos diretamente na tela, com poucos cliques no controle remoto ou por QR codes exibidos durante os programas. Isso conecta emissoras a fintechs e plataformas de pagamento digital, incluindo integração com o Pix e carteiras virtuais.

Startups e hubs de inovação dentro da TV – Outro impacto direto da DTV+ é a possibilidade de criar aplicativos e serviços embarcados nas próprias televisões. Plataformas de gamificação, estatísticas em tempo real, redes sociais de nicho e experiências interativas podem surgir nesse novo ecossistema.

Na prática, a TV 3.0 pode se tornar uma extensão da web. Um espaço que deve atrair startups de base tecnológica e hubs de inovação interessados em explorar essa integração. Assim como as lojas de aplicativos impulsionaram o crescimento de gigantes digitais, a DTV+ pode se consolidar como um futuro “marketplace de TV apps”.

Inclusão digital e serviços – A DTV+ também abre oportunidades no campo da educação. Em um país onde a TV ainda é o meio de maior alcance, edtechs poderão levar cursos, treinamentos e até experiências gamificadas para milhões de brasileiros, sem depender apenas da internet.

Além disso, a tecnologia prevê o envio de alertas de emergência geolocalizados e detalhados, mas o mesmo mecanismo pode ser adaptado para iniciativas de cidadania, saúde e campanhas educativas. Nos EUA, por exemplo, a National Association of Broadcasters (NAB) já lançou o NextGen TV News Technology Lab, laboratório de inovação que testa aplicações como cobertura hiperlocal, esportes comunitários e notícias em tempo real, aproveitando as capacidades do ATSC 3.0.

Datacasting – Outra frente promissora é o datacasting, ou transmissão de dados pela TV. De acordo com Nathan Simington, ex-Comissário da FCC (Federal Communications Commission), esse recurso pode se tornar uma fonte disruptiva de receita para emissoras, em aplicações como conectividade em áreas remotas, sistemas alternativos de GPS e comunicações para a Internet das Coisas. “Não há opção a não ser permitir que o datacasting floresça”, afirmou em conferência.

Esse entendimento reforça que a TV 3.0 pode ir muito além do entretenimento: pode se tornar parte da infraestrutura digital do país, apoiando startups e empresas de setores como civic tech, IoT e segurança pública.

Daqui para frente

A transição para o DTV+ ainda está em fase inicial, mas especialistas apontam que seu maior impacto será a convergência entre TV e internet. Na prática, isso significa abrir novas portas para publicidade interativa, e-commerce, fintechs, edtechs, civic techs e startups de inovação.

Se bem explorada, a DTV+ pode transformar a televisão brasileira em um motor de negócios digitais, combinando o alcance massivo da TV aberta com a personalização e a interatividade típicas da internet.

Texto: Bruno Nasser

Pesquise no TI RIO