Dominar ferramentas de IA deixa de ser um diferencial e vira exigência no Duolingo. Empresa adota gestão “AI-first” para contratar, avaliar e organizar suas equipes. Mudança sinaliza nova era nas relações de trabalho com foco em automação.
Se antes conhecer inteligência artificial era um diferencial, agora é pré-requisito. O Duolingo, plataforma de ensino de idiomas com quase 110 milhões de usuários ativos mensais, anunciou que o domínio de ferramentas de IA será um dos principais critérios em seus processos de contratação. A medida integra uma ampla reformulação da empresa rumo a uma gestão “AI-first”, em que a inteligência artificial deixa de ser ferramenta auxiliar para se tornar base estrutural do trabalho.
O anúncio foi feito por Luis von Ahn, CEO e cofundador do Duolingo, em um memorando interno publicado no LinkedIn. Segundo ele, o objetivo é acelerar a produção de conteúdo educacional, eliminar tarefas repetitivas e permitir que os funcionários se concentrem em atividades criativas e complexas.
“Sem a IA, levaríamos décadas para expandir nosso conteúdo para mais alunos. Devemos a eles esse conteúdo o quanto antes”, afirmou von Ahn. Em 2024, a empresa já havia demitido 10% de seus contratados ao adotar ferramentas de geração automática de conteúdo.
Além de transformar o processo de recrutamento, a IA também influenciará:
- A avaliação de desempenho dos funcionários, com foco em como utilizam ferramentas de IA;
- A substituição gradual de prestadores de serviços por sistemas automatizados;
- A expansão de equipe, que só ocorrerá se for comprovado que a tarefa não pode ser automatizada;
- A reestruturação de departamentos com metas específicas voltadas à integração da IA.
Luis von Ahn comparou essa nova fase à aposta da empresa em 2012 de tornar-se um app mobile-first — uma estratégia que se provou visionária. Agora, ele defende que o momento exige uma transformação ainda mais profunda: um Duolingo AI-first.
“Ao remover gargalos com tecnologia, ganhamos escala sem abrir mão da qualidade. Preferimos agir com urgência e correr riscos pontuais do que perder o momento”, escreveu.
Um novo modelo de trabalho em ascensão – O movimento do Duolingo não é isolado. Em abril deste ano, o CEO da Shopify, Tobi Lütke, enviou um memorando com uma diretriz similar: novas contratações só seriam aprovadas se as equipes conseguissem comprovar que a tarefa não poderia ser feita por IA. A regra provocou repercussão global e reacendeu o debate sobre a automação e a precarização das relações de trabalho. Leia aqui.
No caso do Duolingo, embora a empresa afirme que o objetivo não é substituir trabalhadores fixos, mas sim ampliar sua capacidade produtiva, o impacto sobre prestadores de serviço e os critérios internos de crescimento é claro.
Além da reformulação organizacional, o Duolingo vive um momento financeiro positivo. As ações da empresa subiram 68% nos últimos 12 meses, impulsionadas pela expansão de planos pagos e pela diversificação de produtos. Em abril, a plataforma anunciou o lançamento de 148 novos cursos de idiomas, a maior ampliação de conteúdo de sua história.
Texto: Bruno Nasser