
Por mais que o avanço da inteligência artificial (IA) gere ansiedade no mercado de trabalho, uma coisa parece inevitável: a tecnologia não apenas pode substituir funções tradicionais, mas também deve gerar profissões que sequer existem hoje, algumas delas soam, no mínimo, inusitadas.
Esse foi o ponto de partida de uma reportagem do The New York Times, assinada por Robert Capps, ex-diretor editorial da Wired. O jornalista, inclusive, tentou usar o próprio ChatGPT para criar uma lista de empregos do futuro, mas acabou percebendo que ainda não dá para confiar cegamente nas ferramentas de IA. Entre erros, nomes de especialistas inventados e sugestões bizarras, como “conselheiro de relacionamentos sintéticos” (para quem se apaixona por chatbots), ele decidiu fazer o que jornalistas fazem de melhor: conversar com especialistas de carne e osso.
O resultado? Uma lista de novas funções que podem surgir na esteira do avanço da IA, especialmente voltadas a resolver os próprios dilemas e limitações da tecnologia.
Profissões voltadas à confiança na IA
Se hoje a confiança em decisões tomadas por IA é baixa, no futuro surgirão cargos especializados em garantir que algoritmos sejam transparentes, éticos e confiáveis. Veja alguns exemplos:
- Auditor de IA: profissional responsável por entender o funcionamento interno dos algoritmos, analisar decisões automatizadas e garantir que tudo esteja documentado e em conformidade. A expectativa é que empresas de contabilidade e consultorias já adotem esse cargo nos próximos cinco anos.
- Tradutor de IA: especialista em decifrar os processos da inteligência artificial e explicá-los para profissionais, clientes e líderes que não falam a “língua dos algoritmos”.
- Autenticador ou Diretor de Confiança: cargo voltado a verificar e validar se documentos, relatórios, contratos ou conteúdos gerados por IA são precisos, consistentes e verdadeiros.
- Eticista de IA: responsável por criar códigos de ética específicos para o uso da inteligência artificial em empresas, órgãos públicos ou sistemas judiciais.
- Fiador Legal: cargo curioso, e polêmico, cuja função seria assumir responsabilidade por erros cometidos por uma IA. Como um algoritmo não pode ser processado, o fiador legal responderia, na prática, pelas falhas da máquina.
- Coordenador de Consistência: quem já usou IA sabe que ela pode gerar respostas sem padrão, tom ou estilo coerentes. Esse profissional seria responsável por garantir consistência na comunicação, na linguagem e nos outputs da IA.
Profissões altamente técnicas
A IA também abre espaço para novos empregos no campo técnico, voltados à manutenção, desenvolvimento e ajuste dos próprios sistemas inteligentes.
- Integrador de IA: profissional que entende como adaptar e integrar inteligências artificiais específicas às necessidades de cada negócio.
- Encanador de IA: o nome soa estranho, mas faz sentido. Quando algo dá errado no funcionamento da IA, como erros nos dados, bugs ou respostas absurdas, esse profissional entra para identificar onde está o problema e corrigi-lo.
- Avaliador de Modelos de IA: responsável por testar, analisar e entender como funcionam os modelos mais recentes, identificando forças, fraquezas e aplicações práticas.
- Instrutor de IA: não é um professor para pessoas, mas sim um especialista que ensina a IA a se comportar da forma desejada, alimentando-a com dados específicos e calibrando seus parâmetros.
- Diretor de Personalidade de IA: cargo voltado a criar uma “identidade” para a IA, com tom de voz, estilo e comportamento alinhados à cultura de uma marca ou empresa.

IA também vai gerar empregos criativos
Se hoje as ferramentas de IA já ajudam a criar textos, imagens, vídeos e músicas, no futuro elas poderão abrir caminho para profissões criativas especializadas.
- Designer de Histórias: profissionais que criam narrativas, mundos virtuais e experiências interativas sob medida para marcas, games, mídia e publicidade.
- Designer de Artigos: escritores que, além de produzir textos, desenvolvem toda uma estrutura narrativa pensada para IA, ajustando tom, contexto e entrega conforme o público-alvo.
- Arquiteto de Mundos Digitais: cargo voltado à criação de ambientes digitais, especialmente no metaverso ou em plataformas de realidade aumentada, combinando IA com storytelling e design.
Afinal, a IA vai roubar empregos?
Essa é a pergunta de um bilhão de dólares, e a resposta é: depende. O que especialistas concordam é que profissões vão desaparecer, outras vão se transformar e muitas novas vão surgir. E há um consenso: quem souber trabalhar com IA terá uma vantagem competitiva enorme no mercado.
Seja como auditor, tradutor, eticista ou “encanador” de algoritmos, uma coisa parece certa: o futuro do trabalho será, mais do que nunca, uma colaboração, às vezes tensa, às vezes produtiva, entre humanos e máquinas inteligentes.
A boa notícia é que, se a IA ameaça alguns empregos, ela também está criando outros que, até pouco tempo atrás, pareciam coisa de ficção científica. E, no ritmo que a tecnologia avança, o futuro pode estar muito mais próximo do que imaginamos.
Texto: Redação TI Rio