Do descarte ao faturamento verde: TI Rio e Reciclotron mostram como reciclar pode gerar valor real

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Celulares antigos, cabos emaranhados, notebooks quebrados e controles remotos esquecidos em gavetas.
Mais de 80% dos resíduos eletrônicos do Brasil ainda estão dentro das casas das pessoas, acumulados em armários, caixas e depósitos domésticos.

Um retrato silencioso de um problema crescente: o lixo eletrônico é o resíduo que mais cresce no mundo, e, ao contrário de papel, vidro ou plástico, ele contém metais pesados e tóxicos como chumbo, cádmio e mercúrio, que são contaminantes potentes para o solo e para as águas.

No dia 14 de outubro, data em que se celebra o Dia Internacional do Resíduo Eletrônico, o TI Rio deu um passo importante nessa agenda ao formalizar uma parceria com a Reciclotron, startup fluminense reconhecida pela ONU por suas soluções inovadoras para a economia circular.

A iniciativa amplia o compromisso da entidade com a sustentabilidade e a inovação tecnológica, criando pontes entre as empresas do setor de TI e o cumprimento das normas ambientais brasileiras.

Uma parceria que une impacto, tecnologia e oportunidade

A parceria prevê a instalação de pontos de coleta de resíduos eletroeletrônicos na sede do TI Rio, no Centro do Rio de Janeiro, e na representação regional em Três Rios.
Esses pontos farão parte da rede Reciclopontos, plataforma digital gamificada da Reciclotron que recompensa o descarte consciente com pontuação e benefícios para pessoas e empresas – uma forma prática e moderna de estimular hábitos sustentáveis.

A parceria inclui também consultoria especializada para captação de recursos via Lei de Incentivo à Reciclagem (Lei nº 14.260/2021), uma ferramenta que permite às empresas destinar até 1% do Imposto de Renda devido para projetos aprovados pelo Ministério do Meio Ambiente.

Com isso, cada empresa pode financiar ações de reciclagem, logística reversa e inclusão digital, obtendo visibilidade positiva e retorno institucional concreto.

O CEO da Reciclotron, Eric Fernandes, destaca que essa união entre sustentabilidade, inovação e incentivo fiscal representa uma virada de chave para o setor:

“O objetivo é transformar o impacto ambiental em valor econômico e social. Com o apoio do TI Rio, podemos levar essa visão para dentro das empresas, mostrando que investir em reciclagem é também investir em competitividade e reputação. Essa é a verdadeira economia circular, aquela em que todos ganham: o planeta, as pessoas e os negócios”.

Iniciativa de impacto – A Reciclotron é uma startup de impacto socioambiental incubada na Agência de Inovação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua missão, segundo Eric Fernandes, é conectar quem quer reciclar com quem recicla, criando um ecossistema em que o descarte consciente gera valor econômico e social.

Entre as vantagens do modelo está o aproveitamento real dos resíduos coletados. A cada tonelada de equipamentos captados, a Reciclotron consegue recuperar componentes e recondicionar um computador que é doado a instituições sociais, promovendo inclusão digital e acesso à tecnologia.

O restante do material é direcionado a processos industriais de reaproveitamento certificado, com emissão de Certificado de Destinação Final (CDF), conforme a legislação ambiental.

Descarte correto que gera pontos

Além da coleta física, a Reciclotron desenvolveu uma plataforma digital inovadora: os Reciclopontos, que é uma espécie de moeda verde de fidelidade ambiental.

A cada descarte feito em um ponto de coleta, o cidadão ou a empresa acumula pontos que podem ser trocados por produtos, serviços, descontos e experiências junto a uma rede de parceiros sustentáveis, que inclui restaurantes, marcas de economia verde, empreendimentos turísticos, lojas conscientes, dentro outros.

Os pontos também podem ser doações para causas socioambientais, fortalecendo o vínculo entre responsabilidade individual, engajamento coletivo e impacto positivo.

É a sustentabilidade gamificada, transformando o simples ato de descartar corretamente em um gesto recompensador.

O cenário da reciclagem no Brasil

Apesar dos avanços, o Brasil ainda está longe de atingir o potencial da sua cadeia de reciclagem eletrônica. O Decreto Federal nº 10.240/2020, que criou o sistema nacional de logística reversa obrigatória para eletrônicos, determinou que 17% de todo o volume produzido deveria ser reciclado até 2025, mas menos de 5% é efetivamente reaproveitado hoje.

O coordenador da Agência de Inovação da UFF em Nova Friburgo, Cláudio Fernandes, explica que o problema central não é técnico, mas estrutural.

“O país tem um déficit enorme entre o que as empresas produzem e o que é reciclado. A maior parte dos resíduos está dentro das casas, não chega à indústria. Uma usina de álcool, por exemplo, nunca duvida que terá cana-de-açúcar para processar. Já uma usina de reciclagem eletrônica não tem certeza de que vai receber resíduos. E sem fluxo, não há investimento nessa indústria”.

É esse gargalo que a Reciclotron pretende resolver: criar o fluxo.
Transformar o ato de descartar em hábito, o hábito em cultura e a cultura em mercado sustentável.
Ao engajar consumidores, empresas e governos em um ecossistema de recompensas, a startup visa gerar o insumo que a indústria precisa e viabiliza economicamente a reciclagem eletrônica no país.

Economia circular e inovação fiscal

O modelo desenvolvido pela Reciclotron, agora fortalecido pela parceria com o TI Rio, une tecnologia, incentivo fiscal e impacto ambiental. Por meio da Lei de Incentivo à Reciclagem, as empresas podem converter parte do imposto em investimento certificado, com rastreabilidade total e retorno reputacional.
Ao mesmo tempo, o sistema digital Reciclopontos estimula consumidores e colaboradores a participar ativamente do ciclo da reciclagem, fechando o elo entre educação ambiental, economia e cidadania.

O vice-presidente do TI Rio, Paulo Golzman, que assinou o acordo com a Reciclotron, destaca que essa é uma parceria que reflete o papel prático do sindicato em transformar diretrizes ESG em ações concretas.

“Essa iniciativa une propósito e resultado. Com a Reciclotron, damos aos nossos associados uma ferramenta para cumprir a legislação, gerar impacto ambiental positivo e ainda obter retorno institucional e de imagem. É um modelo inteligente, que demonstra como sustentabilidade e competitividade podem caminhar juntas”, ressaltou.

A cultura ESG do TI Rio

A parceria com a Reciclotron também reforça uma cultura que o TI Rio pratica há mais de uma década. Alinhado às diretrizes ESG (ambiental, social e de governança), a entidade promove há 12 anos a Campanha de Coleta de Resíduos Eletrônicos, incentivando o descarte consciente e a logística reversa entre suas empresas associadas e o público em geral.

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Ao longo desse período, o TI Rio já arrecadou cerca de 35 toneladas de equipamentos eletrônicos, destinados de forma ambientalmente correta e rastreável.

Essas ações fazem parte de um compromisso contínuo da entidade com a responsabilidade ambiental, a inovação tecnológica e a construção de uma economia mais sustentável, valores agora amplificados pela parceria com a Reciclotron.

O presidente do TI Rio, Alberto Blois, ressalta que essa união entre a tradição da campanha e o novo modelo digital de logística reversa reforça o compromisso da entidade com a agenda ESG e com o desenvolvimento sustentável.

“O TI Rio vem trabalhando há anos para conscientizar empresas e cidadãos sobre a importância do descarte correto de resíduos eletrônicos. Agora, com a Reciclotron, damos um passo além, unindo tecnologia e inovação a esse propósito. É o casamento perfeito entre uma causa ambiental e o espírito inovador que sempre pautou o setor de tecnologia”, enfatizou Blois.

Texto: Bruno Nasser

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