Disputa tarifária entre Brasil e EUA acende alerta no setor de tecnologia

disputa tarifária entre brasil e eua acende alerta no setor de tecnologia

Setor empresarial dos dois países pede negociação para evitar tarifas de até 50%; especialistas temem impacto direto em data centers e cadeias de inovação no Brasil

Uma escalada tarifária entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos está gerando forte preocupação entre empresas e especialistas em comércio internacional, especialmente no setor de tecnologia da informação (TI). A tensão teve novo capítulo nesta terça-feira (15), quando a U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil divulgaram uma nota conjunta pedindo negociações imediatas para evitar a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA a partir de 1º de agosto.

De acordo com a nota, publicada no site da CNN Brasil, a medida colocaria em risco uma das mais importantes relações econômicas dos Estados Unidos, com potenciais prejuízos para cadeias produtivas, consumidores e milhares de pequenas empresas norte-americanas que dependem do Brasil como fornecedor estratégico. Os números são expressivos: mais de 6.500 pequenas empresas nos EUA dependem de insumos brasileiros, enquanto 3.900 companhias americanas possuem investimentos ativos no Brasil. Além disso, o país sul-americano é um dos dez maiores mercados para exportações norte-americanas, com cerca de US$ 60 bilhões anuais em bens e serviços comercializados.

Caso a tarifa seja mantida, o governo brasileiro já sinaliza com uma possível resposta por meio da Lei de Reciprocidade, que permite aplicar taxas equivalentes sobre produtos importados dos EUA. E é nesse ponto que os impactos para o setor de tecnologia ganham peso.

Tecnologia como setor vulnerável

Segundo matéria publicada pelo Tecnoblog, a reação brasileira com elevação tarifária sobre itens de origem americana poderá atingir em cheio o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), especialmente as empresas que operam data centers e infraestrutura de nuvem.

De acordo com Alessandro Lombardi, presidente da Elea Data Centers, os centros de processamento de dados no Brasil são altamente dependentes de equipamentos norte-americanos, como CPUs, GPUs, placas e circuitos eletrônicos essenciais para a operação e expansão desses ambientes. “Cerca de 92% dos equipamentos adquiridos para data centers no Brasil vêm dos EUA”, afirmou Lombardi durante o evento CPDP LatAm 2025, realizado na FGV Direito Rio.

O empresário alerta que esses produtos já sofrem incidência de tributos superiores a 50%. Ampliar essa carga, em resposta à medida americana, tornaria a operação de data centers financeiramente inviável, afetando diretamente a expansão de infraestrutura crítica de TI no país — justamente em um momento de alta demanda por serviços de computação em nuvem, inteligência artificial e big data.

Apesar de reconhecer que é tecnicamente possível buscar fornecedores alternativos fora dos Estados Unidos, Lombardi aponta que uma substituição plena da cadeia norte-americana levaria, na melhor das hipóteses, seis anos. “Isso compromete a capacidade de resposta do Brasil frente à transformação digital global, que se intensificou nos últimos dois anos”, destacou.

A possível elevação tarifária, portanto, não atinge apenas o comércio entre países, mas tem o potencial de frear investimentos em inovação, aumentar os custos operacionais para empresas brasileiras e atrasar o avanço da digitalização no país.

Negociação – A nota conjunta da U.S. Chamber e da Amcham Brasil ressalta que uma relação comercial estável e previsível é essencial para manter empregos, investimentos e competitividade em ambos os lados. O setor empresarial dos dois países defende que os governos encontrem uma solução diplomática e pragmática, evitando decisões unilaterais com potencial de romper cadeias globais de valor e afetar setores estratégicos como o de tecnologia.

Em um mundo cada vez mais movido por dados, infraestrutura digital e inteligência artificial, qualquer movimento tarifário que afete equipamentos, componentes e insumos tecnológicos pode se traduzir em desvantagem competitiva de longo prazo. Para o Brasil, que tenta se inserir no mapa global da IA e da economia digital, a hora é de cautela.

Texto: Redação TI Rio

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