De vilã a aliada: como a tecnologia está ajudando idosos a manter o cérebro jovem

de vila a aliada como a tecnologia esta ajudando idosos a manter o cerebro jovem

Durante anos, o discurso dominante foi de que o uso excessivo de telas prejudicava a mente. E, de fato, pesquisas mostram que adolescentes expostos por longas horas a dispositivos digitais podem sofrer impactos na atenção, na saúde mental e no comportamento. Mas quando o assunto é envelhecimento, o enredo muda de rumo: cada vez mais evidências científicas apontam que a tecnologia pode ser uma poderosa aliada do cérebro dos idosos.

A norte-americana Wanda Woods é um exemplo vivo dessa transformação. Conforme matéria publicada na Folha de S. Paulo e no The New York Times, Wanda, aos 67 anos, dá aulas de informática no projeto Senior Planet, apoiado pela AARP, em Denver, nos Estados Unidos. Ela começou a lidar com computadores nos anos 1970 e nunca mais parou. Hoje, usa celular, smartwatch, faz compras online, paga contas por aplicativos e até planeja viagens com ajuda de chatbots de inteligência artificial. “A tecnologia me mantém informada”, diz.

A experiência de Wanda encontra respaldo na ciência. Uma análise publicada na revista Nature Human Behavior, que avaliou 57 estudos com mais de 411 mil idosos, mostrou que aqueles que usam regularmente computadores, celulares e internet apresentam risco significativamente menor de desenvolver comprometimento cognitivo ou demência. De acordo com os dados, quase 90% dos estudos encontraram efeito protetor da tecnologia sobre a cognição.

Michael Scullin, neurocientista da Universidade Baylor e um dos autores da pesquisa, explica que até os desafios cotidianos com aparelhos digitais funcionam como treino cerebral. “Resolver bugs, lidar com atualizações e aprender novos sistemas são exercícios mentais poderosos”, afirma. Já Murali Doraiswamy, diretor do Programa de Distúrbios Neurocognitivos da Universidade Duke, chama os resultados de “revigorantes” e capazes de inverter a narrativa de que a tecnologia seria sempre prejudicial.

Os benefícios vão além da memória. Aplicativos de lembrete ajudam a compensar lapsos, redes sociais e grupos de mensagens fortalecem vínculos sociais, reconhecidos como barreira contra o declínio cognitivo, e até mesmo as frustrações de se adaptar a novos sistemas podem estimular a resiliência mental.

Esse efeito positivo dialoga com uma tendência observada em países como Estados Unidos e Reino Unido: embora o número absoluto de pessoas com demência esteja crescendo por causa do envelhecimento populacional, a proporção de idosos diagnosticados com a doença vem diminuindo. Pesquisadores apontam fatores como maior escolaridade, melhores tratamentos de saúde e, possivelmente, a adoção crescente de tecnologias digitais.

Ainda há perguntas em aberto. Não se sabe ao certo se a tecnologia fortalece a cognição ou se pessoas cognitivamente mais ativas tendem a adotar dispositivos com mais facilidade. Também há riscos: golpes virtuais, desinformação e o excesso de tempo em frente às telas podem prejudicar a saúde, inclusive dos mais velhos.

Mas o recado dos cientistas é que, quando usada de forma equilibrada, a tecnologia pode ser tão benéfica para o cérebro quanto uma boa caminhada ou uma dieta saudável. Ou, como resume Scullin, “cada senha nova, cada sistema que você aprende a usar, é um treino para o cérebro e ele agradece”.

Texto: Redação TI Rio

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