
Enquanto potências globais escalam investimentos bilionários em computação de alto desempenho e inteligência artificial, o Brasil busca se inserir no mapa da transformação digital com iniciativas públicas e startups inovadoras
A disputa pelo protagonismo na era da inteligência artificial entrou de vez na agenda estratégica das grandes economias. Nessa semana Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos anunciaram avanços expressivos em suas políticas de incentivo à IA, sinalizando uma guinada na corrida tecnológica global. Enquanto isso, o Brasil aposta em centros regionais e na força de seu ecossistema emergente de inovação para não ficar para trás.
Alemanha quer 10% do PIB impulsionado por IA até 2030 – O governo alemão revelou planos ambiciosos para transformar a IA em um dos pilares de sua economia. De acordo com matéria publicada pela Reuters, a meta é que 10% do Produto Interno Bruto (PIB) alemão seja gerado por inteligência artificial até 2030. O projeto, denominado de “ofensiva de IA”, inclui a construção de “gigafábricas” de computação de alto desempenho com apoio de fundos da União Europeia.
Segundo o mesmo texto da Reuters, os primeiros centros de supercomputação devem começar a operar já em 2027, coordenados entre governo, indústria e universidades. A prioridade é fortalecer setores estratégicos da economia alemã, como a indústria automotiva, farmacêutica e de logística.
Para analistas ouvidos pela agência, o movimento busca recuperar terreno em relação a outras potências, apostando em soberania digital e infraestrutura computacional de ponta como forma de se reposicionar na nova economia da IA.
Água, energia e IA – Já no Reino Unido, o governo do primeiro-ministro Keir Starmer anunciou um novo pacote de investimentos de £1,3 bilhão (aproximadamente US$ 1,34 bilhão) para ampliar a capacidade computacional pública voltada à IA. A medida foi divulgada pelo próprio governo britânico e noticiada pela também pela Reuters.
Segundo a reportagem, o plano prevê multiplicar por 20 vezes a capacidade de processamento público até 2030. Os supercomputadores Isambard-AI e Dawn serão integrados em um sistema nacional de IA, com foco em pesquisa científica e aplicações em saúde pública, como o uso de algoritmos para análise de exames médicos.
De acordo com o governo britânico, a inteligência artificial deve ser tratada como infraestrutura crítica, ao lado de água, energia e telecomunicações.
Boom bilionário e liderança consolidada – Segundo dados publicados pela Crunchbase News, os Estados Unidos registraram, no primeiro semestre de 2025, um total de US$ 162,8 bilhões em investimentos em startups, o maior volume desde 2021. Desse montante, US$ 104 bilhões foram direcionados a empresas de inteligência artificial, representando impressionantes 64% de todo o capital de risco movimentado no período.
Dentre os destaques, a reportagem cita o aporte de US$ 40 bilhões do SoftBank na OpenAI, em março, e o investimento de US$ 14,3 bilhões do Meta na Scale AI, em junho. Apesar do otimismo, o mesmo levantamento aponta que os fundos de venture capital enfrentaram uma queda de 33,7% na arrecadação de novos recursos em comparação ao ano anterior.
Ainda assim, os Estados Unidos mantêm sua liderança global na IA generativa, no desenvolvimento de modelos fundacionais proprietários e na criação de soluções comerciais de alto impacto.
Brasil: inovação aplicada e hubs regionais como estratégia
O cenário brasileiro é mais modesto, mas não menos relevante. De acordo com a plataforma Startupi, o Brasil concentrou cerca de US$ 500 milhões dos investimentos em startups no primeiro trimestre de 2025, o que representa 42% do total latino-americano.
No campo específico da IA, reportagem do portal Notisul apontou que as startups brasileiras captaram, em 2024, R$ 5,8 bilhões em aportes, equivalente a 42% de todo o capital investido em tecnologia no país. A expectativa para 2025, segundo levantamento da TrendsCE, é de crescimento: 78% das empresas brasileiras afirmaram que pretendem aumentar seus investimentos em IA neste ano.
O governo também tem atuado com iniciativas regionais. O Centro Integrado de Inteligência Artificial (CIIA), lançado no Distrito Federal, visa integrar pesquisa pública com inovação privada. Já o projeto Rio AI City, em parceria entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e o BNDES, pretende transformar a Barra da Tijuca em um hub nacional de data centers e IA aplicada.
No setor privado, empresas como a Nuvia (IA para vendas B2B) e a Poosting (IA contra desinformação), ambas com capital recente, mostram o vigor de startups orientadas para impacto social, educação, agronegócio e transparência informacional.
Uma corrida assimétrica, mas não impossível
A corrida global da IA é, antes de tudo, assimétrica. Economias como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido dispõem de musculatura financeira e infraestrutura que aceleram seus avanços. Já o Brasil aposta na criatividade, na inovação descentralizada e na articulação público-privada como formas de acompanhar o ritmo e não perder relevância no novo cenário tecnológico.
Texto: Redação TI Rio