
Parcerias estratégicas, consórcios e joint ventures se tornam solução para acelerar inovação e superar déficit crítico de talentos em tecnologia
No front da inteligência artificial, onde o avanço é veloz e a pressão por resultados é constante, a escassez de profissionais especializados no Brasil virou um gargalo estrutural. Com a demanda por soluções de IA disparando, e os quadros técnicos não acompanhando esse ritmo, empresas de tecnologia, bancos, indústrias e até startups passaram a adotar uma estratégia que rompe com o tradicional individualismo corporativo: estão se unindo.
De acordo com reportagem publicada pelo Valor Econômico e reforçada em análise do O Globo, a tendência é formar parcerias interempresariais para desenvolver conjuntamente soluções de IA, especialmente aquelas ligadas à automação de atendimento, análise de dados, personalização de serviços e segurança digital.
Essas alianças têm tomado a forma de consórcios, joint ventures e hubs de inovação. A lógica é simples e eficaz: compartilhar talentos, infraestrutura, modelos computacionais e até bases de dados para acelerar a entrega de resultados e diluir os altos custos de pesquisa e desenvolvimento, que muitas vezes seriam proibitivos para uma única empresa.
Cooperação na prática: do código ao contrato
Um exemplo citado nas matérias é o da parceria entre Qualcomm e Nvidia, que firmaram um acordo para criar soluções mais eficientes para data centers baseados em IA. A ideia é que uma empresa traga sua expertise em chips e a outra, sua força em softwares de processamento de linguagem natural e modelos generativos. Não se trata apenas de somar capacidades técnicas, mas também de alinhar interesses estratégicos e de mercado.
Outra frente destacada envolve o setor financeiro, onde grandes bancos nacionais têm buscado se unir a startups de IA para desenvolver assistentes inteligentes que operem em múltiplos canais de atendimento. Segundo a matéria do O Globo, executivos afirmam que essa colaboração ajuda a acelerar o desenvolvimento de produtos e evita duplicação de esforços em áreas sensíveis como segurança cibernética e compliance regulatório.
“A IA é estratégica, mas exige velocidade. Parcerias são, hoje, uma questão de sobrevivência competitiva”, afirmou um diretor de inovação de uma instituição financeira.
A escassez é real. O tempo é curto – O pano de fundo para esse movimento colaborativo é a carência crônica de profissionais especializados em IA no Brasil. Segundo levantamento da Brasscom, o país forma menos de 60% da demanda anual por especialistas em tecnologia da informação e, dentro desse universo, apenas uma fração está capacitada para lidar com modelos de IA generativa, machine learning, ou engenharia de dados em escala.
A própria Bain & Company, em relatório recente, apontou que 67% das empresas brasileiras já colocam a IA entre suas cinco maiores prioridades estratégicas. Contudo, mais da metade das companhias enfrenta dificuldades severas para encontrar mão de obra qualificada, o que freia a implementação ou eleva seus custos a patamares inviáveis.
Setor público e universidades entram no jogo – Para além das colaborações entre empresas, há também movimentos de aproximação com o setor público e com universidades. Durante o evento Caminhos do Brasil, realizado nesta semana, representantes da Qualcomm, Nvidia, Ministério da Ciência e Tecnologia, universidades e empresas como a TIM debateram formas de estimular a formação de talentos locais e ampliar o acesso à tecnologia.
As propostas incluem desde a criação de trilhas formativas em IA nas universidades públicas, até programas de estágio conjuntos com foco em desenvolvimento de soluções aplicadas, como algoritmos de crédito, sistemas de previsão de demanda e plataformas de atendimento cognitivo.
“Estamos tratando IA como infraestrutura crítica. Isso exige articulação entre academia, empresa e governo”, afirmou Patrícia Ellen, especialista em transformação digital e ex-secretária de Desenvolvimento Econômico de SP, durante o evento.
Segue nesse sentido a iniciativa do TI Rio em parceria com a PUC-Rio, que oferece uma formação gratuita, online e com duração de seis meses. A Turma TI Rio TIC em Trilhas ECOA – PUC-Rio é organizada em quatro trilhas de aprendizagem: Produtividade na Era da IA, Soluções Low-Code, Visualização e Inteligência de Dados e Da Ideia ao Produto Digital. O objetivo é contribuir para a qualificação de novos profissionais e promover a inserção em áreas do setor de tecnologia com alta demanda por mão de obra especializada.
Do colaborativo ao competitivo: o Brasil na disputa global
Embora os exemplos de colaboração cresçam, os desafios persistem. A assimetria entre grandes corporações e pequenas empresas, o déficit histórico em educação digital e a falta de incentivos fiscais consistentes para inovação ainda dificultam a consolidação de um ecossistema nacional de IA robusto.
Mesmo assim, analistas apontam que o modelo de cooperação pode permitir ao Brasil dar saltos em inovação sem depender exclusivamente de soluções importadas ou de multinacionais. A condição? Estabelecer modelos sólidos de governança, propriedade intelectual e transparência entre os parceiros.
Em tempos em que o avanço da IA redefine setores inteiros em meses, e não em décadas, apostar em alianças deixou de ser uma opção estratégica para virar uma urgência operacional. A corrida pela IA já começou. E, para o Brasil, correr em grupo pode ser a única forma de chegar à linha de chegada.
Texto: Redação TI Rio