Como os Dados das Crianças Viram Lucro nas Mãos das Big Techs. O Lado Sombrio dos Games

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Recentemente, tive a oportunidade de ler um artigo excelente do William Rocha sobre um tema que considero não apenas atual, mas absolutamente urgente: o uso de dados pessoais no universo dos jogos digitais e a necessidade de regulação das Big Techs nesse cenário. Após essa leitura, senti a necessidade de compartilhar algumas reflexões e orientações com base na minha experiência como consultor sênior em segurança da informação e processos de adequação à LGPD em empresas públicas e privadas.

O mundo dos jogos digitais ultrapassou, há muito tempo, a barreira do entretenimento puro e simples. Por trás de gráficos envolventes, trilhas sonoras imersivas e desafios eletrizantes, existe um ecossistema extremamente sofisticado e lucrativo. E o “combustível” que move essa engrenagem são, cada vez mais, os dados pessoais dos usuários – em especial os de crianças e adolescentes.

Jogadores mirins e adolescentes, muitas vezes movidos pela empolgação do jogo, são incentivados a fornecer informações pessoais de maneira quase imperceptível. Dados como nome completo, idade, localização, hábitos de consumo, preferências de uso e até comportamentos dentro do jogo são coletados, analisados e, frequentemente, compartilhados com terceiros ou utilizados para alimentar algoritmos que criam perfis de consumo altamente precisos.

O modelo “freemium”, muito comum nas plataformas de games, é um exemplo claro de como esse sistema funciona: oferece acesso gratuito ao jogo, mas estimula engajamento por meio de recompensas e compras internas. E a moeda mais valiosa nesse modelo, muitas vezes, não é o dinheiro — são os dados.

Como profissional da área, vejo com grande preocupação a falta de transparência e controle sobre o que é feito com essas informações. Crianças não têm a mesma capacidade crítica que um adulto para avaliar os riscos que envolvem o compartilhamento de seus dados. E, infelizmente, muitos pais ou responsáveis também não têm pleno conhecimento do que se passa por trás da tela.

Por isso, é fundamental que o debate sobre a regulação das Big Techs seja intensificado e tratado com a seriedade que merece. Não se trata de restringir a inovação ou o acesso ao lazer digital — trata-se de proteger direitos fundamentais, como a privacidade, a segurança e a dignidade dos usuários.

Cuidados que precisam ser considerados imediatamente incluem:

  • Verificar sempre as permissões exigidas pelos jogos antes de autorizar o acesso;
  • Ler e entender as políticas de privacidade, especialmente em relação ao tratamento dos dados;
  • Utilizar plataformas e jogos que estejam em conformidade com a LGPD e outras legislações de proteção de dados;
  • Dialogar com crianças e adolescentes sobre os riscos digitais de forma clara e educativa;
  • Aplicar ferramentas de controle parental e segurança nos dispositivos utilizados;
  • E, para empresas desenvolvedoras, investir seriamente em programas de conformidade com a LGPD.

Aos pais, educadores e gestores públicos: o cuidado com os dados das nossas crianças e jovens deve ser prioridade. Aos desenvolvedores e empresas de tecnologia: a ética no uso dos dados precisa caminhar junto com a inovação.

Por: Theonácio Lima Júnior
TavTec Tecnologia

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