Brasil acelera na adoção de IA: 67% dos CEOs já usam agentes inteligentes

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Estudo do IBM Institute for Business Value mostra que os líderes brasileiros estão à frente da média global no uso de Inteligência Artificial, reconfigurando estratégias, processos e culturas para não ficarem para trás

A maneira como a liderança corporativa olha para seu negócio está sendo reformulada pela Inteligência Artificial (IA) e pela velocidade da inovação. No Brasil, os CEOs estão assumindo riscos, acelerando investimentos e reconfigurando suas organizações – muitas vezes antes de estarem totalmente prontos – porque entendem que o custo da inação pode ser fatal. É o que mostra o recorte brasileiro do estudo “5 Mindshifts to supercharge business growth”, publicado pelo IBM Institute for Business Value, em parceria com a Oxford Economics, ao entrevistar 2.000 CEOs de 33 países e 24 setores, incluindo o Brasil.

No centro da pesquisa está uma mudança de mentalidade dos líderes – os “mindshifts” – necessários para levar uma empresa ao crescimento sustentável. 

  • Faça da coragem o seu core
  • Abrace a destruição criativa impulsionada pela IA
  • Cultive um ambiente de dados vibrante
  • Ignore o medo de ficar de fora (FOMO), concentre-se no ROI
  • Aproveite o talento que você não pode comprar

Entre os insights do estudo global, a pesquisa mostra que;

  • Os CEOs entrevistados esperam que a taxa de crescimento dos investimentos em IA mais que dobre nos próximos dois anos
  • 61% dos CEOs confirmam que estão adotando ativamente agentes de IA hoje e se preparando para implementá-los em escala.
  • 68% dos CEOs pesquisados ​​identificam a arquitetura de dados integrada em toda a empresa como crítica para a colaboração multifuncional
  • 72% veem os dados proprietários de suas organizações como essenciais para liberar o valor da IA ​​Generativa. 
  • 50% dos CEOs reconhecem que o ritmo dos investimentos recentes deixou suas organizações com tecnologias desconectadas e fragmentadas.
  • 65% afirmam que suas organizações estão adotando casos de uso de IA com base no ROI, com 68% relatando que suas organizações possuem métricas claras para medir o ROI da inovação de forma eficaz.
  • 25% das iniciativas de IA geraram o ROI esperado nos últimos anos, e apenas 16% foram escaladas para toda a empresa.
  • 52% dos CEOs entrevistados afirmam que suas organizações estão obtendo valor de investimentos em IA Generativa além da redução de custos.
  • 59% admitem que suas organizações têm dificuldade para equilibrar o financiamento das operações existentes e o investimento em inovação quando ocorrem mudanças inesperadas, enquanto 67% afirmam que é necessária mais flexibilidade orçamentária para capitalizar as oportunidades digitais que impulsionam o crescimento e a inovação a longo prazo.
  • 64% dos CEOs reconhecem que o risco de ficar para trás impulsiona o investimento em algumas tecnologias antes que eles tenham uma compreensão clara do valor que elas agregam à organização, mas apenas 37% afirmam que é melhor ser “rápido e errado” do que “certo e lento” quando se trata de adoção de tecnologia. 

No Brasil, os números revelam um cenário de aceleração, ambição e também tensão diante do ritmo de transformação digital, especialmente com a adoção de agentes de IA. 

Para Thiago Viola, diretor de Inteligência Artificial, Dados e Automação da IBM, esse movimento é perceptível no dia a dia: “A maioria das empresas já entende o que é IA e até mesmo o que são agentes de IA. Mas o real poder desses agentes e como integrá-los de forma produtiva ao negócio ainda está sendo compreendido. Existe um processo de amadurecimento em curso”, afirmou durante IBM AI Forum 2025, em São Paulo. O evento reuniu especialistas, cases de sucesso de implementação de IA e levantou muitas questões para reflexão sobre o papel da IA nos negócios no país.

Para Marcelo Braga, presidente da IBM no Brasil, a IA já está tendo um impacto enorme no processo decisório dentro das empresas e fazendo com que lideranças tenham de repensar seus processos, arquitetura, até o negócio. “Quando você entra num mundo de hiperautomação e agentes de IA, os processos empresariais precisam ser redesenhados”, explica. “A gente estava acostumado a buscar ganhos de produtividade de 3%, 10%… Agora estamos falando de multiplicadores. Há áreas que podem entregar resultados 10, 20 vezes mais rápido ou mais barato. É um novo paradigma”.

Brasil na dianteira da adoção de Agentes de IA

Um dos principais destaques do estudo é que 67% dos CEOs brasileiros afirmam já estar adotando ativamente agentes de IA em suas empresas – acima da média global de 61%. O dado mostra que o país não apenas acompanha a transformação, mas busca protagonismo na automação inteligente de processos e decisões.

Essa aceleração, no entanto, esbarra em obstáculos práticos: como medir os ganhos reais dos agentes? Viola responde com um exemplo: “Imagina o processo de contratação numa empresa. Hoje, uma pessoa pode gastar 28 das suas 40 horas semanais nessa tarefa. Com um agente de IA, todo o fluxo — da descrição da vaga à triagem inicial – pode cair para três horas. A mensuração é clara: sobra tempo para atividades mais estratégicas. Mas é preciso sentar com as pessoas, mapear os processos e quantificar os ganhos reais”.

Além disso, 59% dos líderes no Brasil dizem estar preparando seus funcionários para as mudanças culturais e operacionais trazidas pelos agentes de IA. Essa prontidão cultural é crítica, especialmente diante do ritmo acelerado de adoção.

Segundo a IDC, o mercado latino-americano de IA deve crescer 30,2% ao ano até 2027, chegando a US$ 10,5 bilhões, impulsionado principalmente por aplicações em finanças, varejo e manufatura.

ROI como bússola estratégica

A Inteligência Artificial, hoje, precisa mostrar retorno. Para 59% dos CEOs brasileiros, a definição de casos de uso de IA tem como critério principal o retorno sobre investimento (ROI). Além disso, 71% relatam já ter métricas claras para mensurar o retorno das inovações implementadas. “Nunca se deve começar algo que você não sabe como vai medir. Por isso, o olhar atento ao impacto – seja em tempo, dinheiro ou produtividade – é fundamental antes de colocar um agente em produção”, aconselha Thiago Viola.

O dado reflete maturidade empresarial. A consultoria PwC estima que a IA poderá adicionar até US$ 15,7 trilhões à economia global até 2030 – mas apenas as empresas que souberem medir o valor gerado colherão esses frutos.

Um novo modelo de trabalho: híbrido entre humanos e agentes

A transformação digital continua como prioridade no Brasil: 88% dos CEOs brasileiros planejam manter ou acelerar seu ritmo em 2025. Isso está alinhado com o dado global da McKinsey, que mostra que 70% das organizações aumentaram seus investimentos digitais nos últimos três anos, especialmente em cloud, IA e Analytics. No Brasil, esse avanço tem se concentrado em nuvem híbrida, segurança cibernética e plataformas de dados. A IBM destaca que implementar IA em toda a cadeia produtiva já é considerado um imperativo competitivo.

Essa transformação também exige redesenhar a forma como trabalhamos. “Vamos nos acostumar a trabalhar com IA como nos acostumamos com internet, celular e computador. Seja em Vendas, RH ou Marketing, a IA entra como um colaborador que oferece insights valiosos e agiliza decisões. O nosso QI vai ser mais exigido, porque as tarefas básicas estarão automatizadas”, explica Viola.

A urgência da experimentação

Outro dado importante da pesquisa do IBM Institute for Business Value: 63% dos CEOs brasileiros afirmam que os ganhos de produtividade proporcionados pela automação são tão grandes que estão dispostos a aceitar riscos significativos para se manterem competitivos. Essa visão pragmática também aparece quando 61% admitem investir em tecnologias mesmo antes de entenderem completamente seu valor.

É o que Marcelo Flores, gerente geral da IBM Consulting Brasil, chama de “agir na velocidade da tecnologia”. “Começamos discutindo como escalar a IA tradicional, então veio a IA Generativa e, agora, os agentes. Tudo isso em um intervalo muito curto. Lidar com essa velocidade é o grande desafio”, afirma.

Para Thiago Viola, “o momento é de inflexão”. “Você não precisa entender tudo, mas o letramento básico é exigido. O importante é saber o que é IA, como ela pode ser aplicada e quais facilidades ela traz. Quem não começou ainda está atrasado. Quem começou, precisa acelerar”, afirma.

A próxima fronteira: IA multimodal e hiperpersonalizada

A velocidade da tecnologia desafia a capacidade humana de adaptação. Quase 60% dos CEOs brasileiros reconhecem que suas organizações precisam aproveitar tecnologias que mudam mais rápido do que as pessoas conseguem absorver. E a IA está prestes a dar mais um salto.

“O mercado foi muito focado em texto até agora. Mas já estamos entrando em uma era multimodal: áudio, imagem, vídeo, código. A IA vai entender sotaques, preferências, perfis. A hiperpersonalização vai ser a nova régua”, antecipa Viola. “Isso já está acontecendo. O lançamento que fizemos com a Guria, no Rio Grande do Sul, mostra como a IA pode falar com sotaque regional e compreender o contexto cultural do usuário”.

Para 58% dos CEOs no Brasil, a vantagem competitiva agora está diretamente ligada ao domínio da IA Generativa. E 46% reconhecem que estão promovendo a adoção dessa tecnologia em um ritmo mais rápido do que o “confortável” para muitos colaboradores. Isso reforça um ponto já identificado no relatório “Work Trend Index 2025” da Microsoft: 79% dos líderes acreditam que os profissionais que não dominarem IA rapidamente ficarão para trás.

A velocidade da tecnologia supera a adaptação humana

Quase 60% dos CEOs brasileiros reconhecem que suas organizações precisam aproveitar tecnologias que mudam mais rápido do que as pessoas conseguem se adaptar. Esse dado expressa uma nova tensão entre inovação e capacidade de absorção cultural.

No relatório “State of the Connected Customer” da Salesforce, 61% dos consumidores globais afirmam que as empresas estão inovando mais rapidamente do que conseguem acompanhar. Isso também se aplica a talentos internos.

IA no core do negócio e liderança distribuída

Para 69% dos CEOs brasileiros, a IA está alterando aspectos essenciais de suas operações centrais – não apenas áreas de suporte ou inovação. E 71% acreditam que o sucesso depende de um grupo mais amplo de líderes com conhecimento estratégico e autonomia para decisões críticas. O relatório da McKinsey sobre liderança reforça que o papel do CEO está se tornando o de um “integrador de decisões” distribuídas, mas ancoradas em dados e estratégia central.

Isso reforça a ideia de que a IA deixou de ser “tecnologia da TI” para se tornar motor estratégico.

Em linha com esse dado, o BCG prevê que até 2026, 80% das empresas líderes terão reconfigurado seus modelos operacionais a partir de IA e automação.

Liderança distribuída, mas com autoridade

Outro insight importante: 71% dos CEOs no Brasil acreditam que o sucesso organizacional depende de manter um grupo amplo de líderes com profundo conhecimento de estratégia e autoridade para tomar decisões críticas. Isso representa um movimento em direção à liderança distribuída – mas não difusa.

O relatório “CEO Excellence” da McKinsey aponta que os CEOs mais bem-sucedidos hoje atuam como integradores, permitindo que líderes funcionais tomem decisões rápidas com base em dados, mas dentro de uma estratégia central bem definida.

Orçamento dinâmico como diferencial competitivo

Por fim, 76% dos CEOs brasileiros consideram que a flexibilidade orçamentária voltada a oportunidades digitais é crítica para inovação e crescimento a longo prazo. Isso mostra uma disposição em adaptar recursos conforme surgem novas frentes tecnológicas e desafios econômicos. Viola concorda: “IA não pode ser uma frente separada do negócio. Ela precisa estar integrada ao planejamento estratégico, com orçamento, metas e métricas alinhadas”.

Um relatório da Deloitte publicado anteriormente já havia destacado que as empresas que mais crescem são aquelas capazes de realocar orçamento de forma dinâmica, conforme as oportunidades surgem, especialmente em IA, sustentabilidade e plataformas digitais.

O recado final de Thiago Viola para líderes que ainda questionam o uso da IA? “Se você ainda não começou, já está atrasado. Se começou, ótimo. Mas agora é hora de acelerar. A IA já entrou num ciclo irreversível, e está na hora de começar a tangibilizar os resultados”, diz.

Fonte: Por Soraia Yoshida | The Shift

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