
No mundo dos negócios, muitas vezes os maiores riscos não aparecem de imediato. Eles se escondem em brechas jurídicas, em práticas cotidianas que parecem inofensivas ou em mudanças estruturais que demoram a ser percebidas. Quando emergem, porém, já podem ter se transformado em problemas graves, capazes de comprometer o caixa, a reputação e até a sobrevivência de uma empresa. Foi justamente para antecipar esses riscos e oferecer caminhos de proteção que o TI Rio promoveu, nesta quarta-feira (10/09), em sua sede, o evento “Blindagem Empresarial – Como reposicionar e proteger sua empresa”, reunindo empresários do setor de tecnologia e especialistas em áreas decisivas para o futuro do mercado.
Tributário – Entre os principais alertas do encontro esteve a reforma tributária, que entra em vigor a partir de janeiro de 2026 e promete transformar profundamente a forma de apuração e recolhimento de tributos no país. Para o Tax Manager da Axxen Consultoria, Alexandre Gagliardo, os impactos não se limitarão à área fiscal: atingirão o negócio como um todo, do TI ao jurídico, do RH ao comercial.
A mudança prevê a substituição de cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por dois novos: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de competência federal, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência compartilhada entre estados e municípios. Trata-se da adoção de um modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA), já utilizado em outros países, que incide sobre o consumo e busca simplificar a cobrança e reduzir distorções no sistema atual.
Um dos pontos sensíveis apontados é o split payment. Nesse mecanismo, no momento em que a empresa recebe o pagamento pela venda, a parcela correspondente ao imposto é automaticamente separada e enviada ao fisco, sem passar pelo caixa da companhia. Ou seja, a empresa não recolhe depois, o valor do tributo é retido e destinado diretamente ao governo no ato da transação.
Na prática, isso reduz riscos de sonegação e garante arrecadação mais ágil para União, estados e municípios, mas também impacta o fluxo de caixa das empresas, que deixam de contar temporariamente com aquele montante para suas operações financeiras. “Quem não se preparar pode até ficar impedido de faturar. 2025 será o ano-chave para mapear impactos e definir prioridades”, alertou Gagliardo.
Compliance – Se as mudanças tributárias já impõem um novo modelo de gestão, os riscos trabalhistas também exigem atenção redobrada. O advogado Marcelo Avelino, especialista em Direito do Trabalho e Compliance, chamou a atenção, dentre outros temas, para o assédio moral, um passivo invisível que cresce no contexto do home office.
Na sua avaliação, cobranças excessivas, metas incompatíveis e pressões constantes, quando não observadas com clareza, podem configurar assédio e gerar condenações expressivas. É nesse ponto que o compliance se torna um aliado estratégico. Mais do que um conjunto de normas internas, ele funciona como um sistema de prevenção e proteção: ajuda a estabelecer critérios claros para diferenciar cobranças legítimas de condutas abusivas, cria canais de denúncia confiáveis e promove treinamentos que fortalecem a cultura ética dentro das empresas.
“O compliance não deve ser visto como burocracia, mas como ferramenta de proteção. Ele ajuda a separar cobranças legítimas de condutas abusivas, oferecendo segurança tanto para a empresa quanto para os colaboradores”, explicou Avelino.
Ao incorporar práticas de compliance, as companhias não apenas reduzem o risco de ações trabalhistas, mas também constroem ambientes mais saudáveis, que favorecem engajamento, produtividade e sustentabilidade do negócio no longo prazo.
Fusões e Aquisições – Ao lado desses dois temas, a estratégia de fusões e aquisições (M&A) foi apresentada como ferramenta de reinvenção e reposicionamento para as empresas de tecnologia. O advogado e contabilista Hudson Couto, da Liberty Negócios, comparou as organizações a organismos vivos, que nascem, crescem, amadurecem e podem entrar em declínio.
Nessa dinâmica, o M&A aparece não apenas como uma saída emergencial, mas como um instrumento estratégico para acelerar o crescimento, expandir portfólio de produtos, acessar novos mercados ou até incorporar competências que levariam anos para serem desenvolvidas internamente. Segundo Couto, essa estratégia pode representar tanto uma oportunidade de ganho de escala quanto uma forma de reposicionar a empresa diante de mudanças rápidas no setor.
Ele destacou que, somente no primeiro semestre de 2025, já foram realizadas 142 operações de M&A no setor de tecnologia, número que corresponde a 72% de todo o volume registrado em 2024. Para ele, os dados refletem um mercado mais seletivo e exigente, mas também em forte aceleração. “O desafio é identificar o timing certo e usar o M&A não como um tapa-buraco, mas como uma alavanca”, reforçou.
O encontro Blindagem Empresarial, realizado pelo TI Rio, mostrou que blindar uma empresa não significa apenas se proteger de riscos imediatos, mas, sobretudo, preparar-se para as transformações que estão por vir. A blindagem envolve antecipar cenários, fortalecer estratégias e criar mecanismos que permitam às organizações enfrentar mudanças tributárias, trabalhistas, estratégicas e tecnológicas de forma sólida e sustentável.
Ainda no encerramento, o presidente do TI Rio, Alberto Blois, destacou que este e tantos outros encontros continuarão a ser promovidos para que as empresas possam lidar melhor com um ambiente de negócios em constante mudança. “Nosso compromisso é estar ao lado das empresas, promovendo capacitação e criando espaços de troca que preparem gestores e equipes para todo tipo de situação”, afirmou.
Texto: Bruno Nasser