O novo perfil econômico da sociedade brasileira e a sua relação com a tecnologia – com destaque para o aumento do consumo de dispositivos móveis – estimulam, na outra ponta, um novo modelo de data center, melhor preparado para atender à tendência de crescimento do fluxo de informações.
Com a popularização dos smartphones, tablets e, mais recentemente, com a chegada do conceito BYOD (Bring Your Own Device), a mobilidade se consolida como um dos pilares fundamentais sobre os quais essa reestruturação deve estar baseada.
“Num primeiro momento, a mobilidade foi com desktops. Depois, com laptop, a mobilidade restrita dentro de casa. Veio se expandindo e, agora, tenho milhões de aparelhos cada vez mais presentes, gerando um tráfego não só de dados, mas de grande demanda de armazenamento”, elenca Carlos Werner, gerente de desenvolvimento de negócios para data center da Cisco.
Alexandre Kazuki, diretor de marketing e vendas da HP no Brasil, concorda com o papel de destaque da mobilidade nas discussões: “mobilidade é uma das grandes forças de mercado e está mudando a cara dos novos data centers”. E completa: “no Brasil, há mais celular do que gente. E, mesmo os celulares que não são smartphones, precisam ter locais de armazenamento de dados”.
Para atender ao aumento de demanda, gerada, em grande parte, por esse aumento de mobilidade, as tecnologias para data center já delineiam o caminho para os próximos tempos, buscando eficiência, dinamismo, alta disponibilidade e baixos custos.
O principal tema trabalhado, e que já foi alvo de preocupação dos centros de dados, é o espaço, ou a falta dele. Os avanços tecnológicos se encarregam de, a cada versão, reduzir os espaços ocupados, permitindo a mudança de foco dos gestores para outras áreas estratégicas. O mais consolidado desses avanços tecnológicos é a adoção do modelo em nuvem, quase um consenso quando se fala em tendência no mercado.
Para Rodrigo Gazzaneo, gerente de soluções de virtualização da EMC para América Latina, os data centers precisam garantir o aumento de elasticidade e escalabilidade. Isso se deve, principalmente, por não haver mais a possibilidade de previsão do dimensionamento de uma eventual estrutura, tamanha a variação do fluxo de informação. “Os data centers têm que se desenhar para o novo cenário, para ter mais escalabilidade e lidar com a imprevisibilidade. Antes, quando se desenhava uma infraestrutura, podíamos determinar para quantos usuários eu estava desenhando”, lembra Gazzaneo, completando com a ideia de que, hoje, essa previsão se torna difícil.
Para o gerente de soluções de virtualização da EMC, o modelo que permitiria a solução desse problema é a computação em nuvem, por ser baseada em “infraestrutura compartilhada, com virtualização e muita automação na configuração e liberação de serviços”.
Mas o executivo aponta para o fato de que, pelo menos por enquanto, “não é o crescimento da nuvem que vai eliminar o data center próprio”. Isto porque empresas ainda tendem a segurar os dados estratégicos e a pensar no aumento de custos que pode acontecer a partir de certo volume de dados.
A tendência de virtualização também é clara para Carlos Werner, mas há certas complementações que se apresentam como desafios a serem pensados. Entre eles a integração e a interoperabilidade das diversas nuvens, por exemplo.
Segundo Werner, é preciso pensar em como ter um ambiente em nuvem, de data center, tendo um provedor de CRM, de bilhetagem, de Human Resources na rede. “Como integrar isso na minha rede privada?”, questiona. E enfatiza: “acho que esse é o desafio das nuvens abertas. Como integrar para usar de maneira transparente serviços internos e externos”.
Fabiano Matos, vice-presidente de Vendas de Sistemas da Oracle do Brasil, acredita que a adoção do modelo em nuvem “é uma questão de tempo”, e que será necessário, primeiro, o amadurecimento do conceito no País, nas pessoas e nas estruturas organizacionais. Outra questão que considera importante para a adoção é a criticidade de TI na indústria. “Existe, em minha opinião, questão de manutenção de sigilo da informação e, do outro lado, a questão da disponibilidade do TI”, opina.
Cristiano Silvério, gerente de soluções da Panduit, levanta dados que demonstram a crescente adoção do modelo em nuvem e a diminuição do investimento em data centers convencionais. “Os investimentos em data centers tradicionais caíram 12%, mas a soma total ainda é de 35%. Já o investimento em data center de cloud privada subiu 8%”, afirma, completando que também os data centers próprios, dentro das empresas, estão migrando para o modelo de processamento em nuvem.
Eficiência energética
Considerado ponto pacífico, a adoção do sistema em nuvem não é a única tendência tecnológica para data center, que se foca cada vez mais em eficiência energética, sustentabilidade e redução de espaço. “Falam de Data Center Green, mas a maneira mais green de ter um data center é ter um cloud-data center. Porque data center para cloud já nasceu tão virtualizado e consolidado que provavelmente vai gastar muito menos energia”, opina Rodrigo Gazzaneo.
A maneira com que se mede o quão efetivo é o uso de energia em data centers é chamada de PUE – Power Usage Effectiveness. Os data centers mais antigos tinham o número de PUE acima de 2, significando que, a cada kW consumido, o data center gastava outro kW em ar-condicionado e áreas adjacentes ao servidor, para possibilitar seu funcionamento.
“Os data Center mais modernos, no Brasil, já estão na faixa de 1.5, 1.6. Ou seja, para cada kW de TI gasta-se 0,5 ou 0,6 para a infraestrutura se manter funcionando. A HP, por exemplo, tem um data center em contêiner que também é muito eficiente em energia”, afirma Pedro Schmitt, diretor de Critical Facilities da HP TS no Brasil.
O contêiner a que Schmitt se refere é o POD (Performance Optimized Datacenter), que tem a relação de PUE em 1,3, segundo a empresa. Fisicamente, o POD tem as dimensões de um contêiner, o que facilita seu transporte e alocação. “Vendemos toda a infraestrutura, a sala, com servidor, storage, rede. Basicamente, ele chega, é energizado e já está instalado. Tem a mesma dimensão de contêiner porque queremos utilizar meios de transportes como navios e caminhões”, afirma Alexandre Kazuki, diretor de marketing e vendas da HP no Brasil.
Quando se constrói um data center de alvenaria, é preciso dimensionar a capacidade futura. Com este tipo de tecnologia, o data center pode funcionar sob demanda. “Se a demanda aumentar, não é preciso aumentar a sala. E só comprar outro data center modular, colocar ao lado e você consegue crescer”, afirma o diretor de marketing. Cada contêiner deste pode ter entre 4000 e 8000 servidores.
Carlos Werner, gerente de desenvolvimento de negócios para data center da Cisco, afirma que a agregação de serviços computacionais em células menores, em blades de computação, consolidando determinados espaços físicos, é uma tendência. “E, mais que isso, integrar diferentes infraestruturas dentro de um conceito fechado”, complementa.
Processamento
A Oracle lançou, em abril, dois novos servidores: T5 e M5. A máquina T5 é considerada média, mas, como é escalável, pode se tornar imensa. A M5 é para missão muito crítica, que não possa parar. “Com menos máquinas, tenho menos ocupação de espaço. Ou seja, o meu data center tem maior capacidade de crescimento. Ali eu estou otimizando funcionamento e diminuindo espaço”, afirma Fabiano Matos.
Metodologias também ajudam a atingir o melhor aproveitamento de um data center. A Panduit desenvolveu o 6Zone, uma forma de desfragmentar o gerenciamento de infraestrutura física para data center e empresas de maneira geral. A intenção é analisar de forma única todos os sistemas que, geralmente, são analisados separadamente.
“Essa visão fragmentada, esses pequenos problemas não detectados no sistema, acabam evitando que os data Centers consigam a melhor eficiência possível em suas operações.”, conclui Cristiano Silvério, gerente de soluções da Panduit. Com a visão do todo, a adoção de medidas estratégicas e manutenção preventiva e corretiva se tornam mais fáceis de serem implementadas.
Outra solução para alcançar a eficiência é a plataforma ViPR, da EMC, especializada em storage. “O ViPR é uma plataforma que consegue colocar os processos de gerenciamento e os sistemas de armazenamento das empresas nessa nova velocidade”, explica Gazzaneo, se referindo à rapidez com que as aplicações funcionam hoje, enquanto o storage ainda é mecânico.
Em maio, durante simpósio realizado pelo Uptime Institute, nos Estados Unidos, a IO Data Centers demonstrou um software que pode ajudar ainda mais na eficiência das operações.
Trata-se de um software que simula o ambiente do centro de dados e permite se locomover no local, em uma realidade virtual, possibilitando o acompanhamento das métricas e indicadores. A solução, que facilitaria a vida de muitos CIOs, ainda não chegou ao Brasil.
*Reportagem publicada na Computerworld impressa – maio/2013
Site: Computerworld
Data: 25/06/2013
Hora: 7h30
Seção: Tecnologia
Autor: Henri Chevalier
Link: http://computerworld.uol.com.br/tecnologia/2013/06/24/a-nova-geracao-de-dada-centers/