A complexidade do mundo contemporâneo e o desafio de compreender a saúde coletiva

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Em um mundo cada vez mais interconectado, desigual e acelerado, a capacidade de compreender os problemas em sua totalidade parece se perder entre análises fragmentadas e soluções imediatistas. A tecnologia avança, os dados se multiplicam, mas as respostas às grandes questões sociais, como a saúde pública, a pobreza e o meio ambiente, seguem insuficientes.
Por que, diante de tanto conhecimento disponível, ainda falhamos em construir políticas e práticas realmente eficazes?

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É a partir dessa provocação que nasce Complexidade e Ação Sistêmica na Saúde Coletiva, obra de Luiz Carlos de Sá Carvalho e Marilia Sá Carvalho, que propõe um novo olhar sobre os fenômenos contemporâneos, unindo ciência, gestão e filosofia. O livro foi lançado no dia 7 de outubro, em um evento realizado na sede do TI Rio, reunindo o autor e diversos convidados do meio acadêmico e do setor de tecnologia.

Uma abordagem que ultrapassa fronteiras disciplinares

Com base nos conceitos de sistemas e complexidade, os autores apresentam a Metodologia Sistêmica para a Ação (MSA), um método que busca integrar diferentes campos do conhecimento e ampliar a capacidade analítica diante dos desafios que envolvem a saúde coletiva.
A proposta é abandonar visões simplificadoras e lineares, compreender os fenômenos de forma interconectada e agir de modo mais ético, integrado e sustentável.

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Dividido em 13 capítulos, o livro combina fundamentos teóricos, exemplos práticos e ferramentas visuais, como diagramas de enlaces causais e modelos baseados em agentes, que ajudam o leitor a visualizar a multidimensionalidade das questões tratadas.

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A obra dialoga com temas contemporâneos como crise ambiental, racismo estrutural, transformações tecnológicas e desigualdades sociais, propondo uma nova ética de compreensão e ação diante do real.

Da tecnologia à epistemologia da complexidade

Durante o lançamento no TI Rio, Luiz Carlos de Sá Carvalho compartilhou a trajetória que deu origem à obra: um percurso de cinquenta anos de vida profissional e acadêmica, marcado pela convivência entre a tecnologia da informação e a gestão de sistemas complexos. “Esse é um trabalho que se originou de toda a minha vida profissional. Eu sempre atuei em TI, mas paralelamente fui desenvolvendo um olhar voltado à gestão e ao entendimento de uma realidade mais ampla, mais complexa. Quando me aposentei, decidi escrever e, depois de algumas tentativas e parcerias, finalmente consegui concluir essa obra com a pesquisadora da Fiocruz, Marilia Sá Carvalho”, relatou o autor.

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Luiz Carlos explica que o livro surgiu de uma inquietação com o modo como o mundo contemporâneo lida com a própria complexidade: “Quanto mais complexo o mundo se torna, mais superficiais ficam as propostas. Essa obra é um esforço de oferecer um olhar e uma teoria científica que nos permitam compreender melhor essa realidade.”

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O autor destaca que o trabalho incorpora aspectos epistemológicos e filosóficos, propondo uma mudança de perspectiva, não um novo paradigma, mas uma forma original de integrar abordagens. “Não se trata de rejeitar a causalidade linear, mas de enxergá-la dentro de um sistema mais amplo, que aceita múltiplas relações e dimensões”.

Complexidade como caminho para a ação

A relevância da obra não se limita ao campo teórico. Complexidade e Ação Sistêmica na Saúde Coletiva propõe uma prática transformadora: compreender para agir de modo sistêmico.
O livro aborda diversos casos, como o da obesidade infantil, que evidencia como problemas de saúde pública não podem ser analisados apenas em nível individual, mas como resultado de múltiplas variáveis sociais, culturais e econômicas interligadas. “A saúde coletiva não pode ser pensada de forma sintomática ou casuística. É preciso enxergar os processos que estão na base dos problemas e agir sobre eles. Por isso, o livro propõe uma metodologia que une teoria, prática e reflexão ética”, afirmou Carvalho.

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O autor observa que a obra também dialoga com questões emergentes como o abandono de tratamentos, a distribuição desigual de recursos de saúde e os desafios comportamentais que interferem nas políticas públicas. Cada um desses fenômenos é compreendido dentro de um mesmo campo de relações, em que as soluções não são simples, mas exigem uma visão integrada — e humana — da realidade.

Texto: Bruno Nasser

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